Especial Natalino, ou o que temos a aprender com histórias sombrias

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Clara-Madrigano Você se depara com o Natal e procura qualquer tipo de narrativa que fale sobre o tema – não que a maioria faça isso, mas sempre tem alguém que faz (até gravamos podcast sobre as histórias de natalinas).

O grande problema com essas narrativas é que elas vêm com alguma coisa que chamo de: trapaça-vou-te-contar-uma-história-pra-te-dar-uma-lição-de-moral. O que é ok, se você tem entre 0 e 9 anos, quando ainda “precisa” de “uma certa”, talvez, “noção de moral” que “vai levar para a vida” (sim, todas essas aspas são necessárias, pois não acredito em nada disso, mas vamos manter em off).

especial_natalinoAí vem a senhorita Clara Madrigano – que anda escrevendo aqui no Homo Literatus há pouco tempo, mas com muita qualidade – e publica uma novela chamada Especial Natalino (Editora Draco, 2014). E neste ponto, quando insiro o objeto da resenha, você pode estar se perguntando por que tem um “temos a aprender” no título. Segura aí, você já vai sacar.

A novela citada traz três filhos adultos que se encontram na casa da mãe para passar o Natal. A cidade é a remota Amberline, situada naqueles fins de mundo do norte dos Estados Unidos, onde tem neve, neve e mais neve. Na verdade, a filha mais nova, Cheryl, vive com a mãe, tem um blog onde escreve críticas ácidas a romances eróticos e de alguma forma ainda tenta realizar o sonho de ser escritora. A filha mais velha, Brooke, é uma advogada bem sucedida que vive em Nova Iorque e é mãe solteira do pequeno Owen. Já Justin, o filho do meio, trabalha no desenvolvimento de um novo game para Xbox, dá a sensação de ser introspectivo e viver assombrado pelo fantasma da personalidade expansiva do pai que faleceu de câncer, tipo um personagem kafkaniano, ou mesmo o Kafka em Carta ao pai.

(Parênteses necessários: quando vi essa porrada de nomes gringos, bateu aquela sensação de: mais-uma-escritora-brasileira-tentando-imitar-livros-americanos, mas dá para manjar que a Clara realmente conhece os lugares do livro (ou cria em cima de lugares semelhantes que ela já visitou), pode acreditar).

Então é um mais um drama familiar? Não. É uma história de terror. Sim, uma história de terror com tema natalino, sem qualquer carência de surgir alguém dando uma lição de moral (como em algumas histórias que possuem um trecho semelhante ao que o personagem He Man, dos desenhos animados, fazia ao fim dos episódios: “no episódio de hoje, nós aprendemos… e blá-blá-blá).

E então “o que temos a aprender com histórias sombrias” (?), como diz o título dessa resenha. Especial Natalino tem um elemento sobrenatural que não vamos revelar para não estragar a leitura, pois o elemento não é citado nem na sinopse, nem no título. Aqui vale uma observação importante: um enorme grupo de leitores torce o nariz quando olha para um livro que tenha elementos fantásticos (tem alguns muito ruins mesmo, não vou negar, mas a ficção realista não se distingue nisso). Lamento por isso, pois como podemos ver nesta novela sombria, de terror, os elementos fantásticos apenas potencializam nossa capacidade de confrontar o que há de pior, e de melhor, dentro de nós mesmos.

Para ser menos monóculo: quem está perdendo é você. Talvez seja isso “que temos a aprender com histórias sombrias”.

“Esta não é uma história com um final feliz”, e com essa frase, finalizo a resenha e Especial Natalino, de Clara Madrigano. Uma boa pedida para este Natal.

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