Em “A Coragem de ser imperfeito”, Brené Brown fala sobre como nossas inseguranças podem ser fonte de força.
Apresentação
A Dra. Brené Brown é professora e pesquisadora na Universidade de Houston, e foi com base em seus estudos de duas décadas que lançou os livros A Coragem de ser imperfeito e Mais forte do que nunca, que ocuparam o primeiro lugar na lista do The New York Times, e Eu achava que isso só acontecia comigo.
A autora trata sobre assuntos que são muito evitados na nossa atualidade, como a vulnerabilidade, o medo, a vergonha e a imperfeição, mas também traz questões como a coragem, a empatia e a ousadia de viver, em sua obra de sucesso A Coragem de ser imperfeito.
Viver consiste em correr riscos o tempo todo. As incertezas e a exposição emocional são de praxe, fazem parte da rotina. Mas isso não é necessariamente algo ruim.
A vulnerabilidade não é uma fraqueza, como muitos acreditam, mas sim a melhor definição para coragem, como Brown deixa bem claro.
Não ser bom o bastante
No primeiro capítulo, a autora fala sobre a cultura do não ser bom o bastante. Relata como o mundo está cada vez mais narcisista e como isso pode ser percebido nas músicas de maior sucesso, nas redes sociais e no dia a dia em geral.
Essa epidemia do narcisismo está diretamente relacionada ao medo das pessoas de se sentirem comuns, de não serem boas o bastante. Todo esse sentimento ruim faz com que a escassez seja o nosso modus operandi. Nunca somos ou temos o suficiente, o que torna o terreno fértil para o desenvolvimento de três componentes nocivos: a vergonha; a comparação; e a desmotivação.
Nunca ser bem-sucedido o bastante.
Ou nunca ser poderoso o bastante.
Nunca ser inteligente o bastante.
Ou nunca ser magro o bastante.
Nunca. Nada. O bastante.
“O oposto a viver em escassez não é cultivar o excesso. Na verdade, excesso e escassez são dois lados de uma mesma moeda. O oposto da escassez é o suficiente, ou o que chamo de plenitude. Em sua essência, é a vulnerabilidade: enfrentar a incerteza, a exposição e os riscos emocionais, sabendo eu sou o bastante.” Brené Brown (pág.25 e 26)
Mitos sobre a vulnerabilidade
A autora também cita e derruba alguns mitos sobre a vulnerabilidade de maneira muito interessante:
- “Vulnerabilidade é fraqueza”: Vulnerabilidade é sentir, e acreditar que isso é fraqueza significa que qualquer sentimento também seja fraqueza. Não podemos abrir mão de nossas emoções por medo do custo alto que isso pode nos causar, pois seria como rejeitar o que dá significado à nossa vida. O amor, por exemplo, é algo incerto e oferece riscos. Amar alguém nos coloca em uma posição de exposição, afinal a pessoa pode não nos amar de volta. Mas não podemos deixar que o medo do abandono nos impeça de amar, não é mesmo?
- “Vulnerabilidade não é comigo”: Ser ou não vulnerável não é uma opção, apenas temos o poder se escolher como vamos reagir diante de situações de incerteza e exposição emocional.
- “Vulnerabilidade é expor toda a minha vida”: Jamais! Segundo a autora, o conceito se baseia na reciprocidade e requer confiança e limites. Devemos compartilhar nossos sentimentos apenas com pessoas que conquistaram o direito de estar ao nosso lado ouvindo nossas experiências de exposição emocional, sem julgamentos.
- “Eu me garanto sozinho”: Brown enfatiza que essa jornada não foi feita para se enfrentar sozinho. Todos precisam de apoio na vida. Porém, mais importante do que saber prestar ajuda, é saber pedir ajuda. Além disso, a coragem de enfrentar a vulnerabilidade encoraja aqueles que estão a nossa volta a fazer o mesmo. Vulnerabilidade e coragem contagiam!
Estudo, observação e conversas
Brown passou treze anos estudando sobre o assunto, mas vai muito além de uma fala acadêmica. No desenrolar de seu livro, ela mostra que, no meio de toda sua teoria e dados, houve também conversas com pessoas comuns, pais, professores, homens e mulheres, sobre experiências relacionadas à vergonha e à vulnerabilidade.
Com seu olhar observador, ela explica como a vergonha é um sentimento doloroso que nos faz acreditar que somos algo ruim, defeituosos, e como isso nos impede de abraçar nossa vulnerabilidade, limitando nossa capacidade de viver com ousadia. De acordo com a autora, pessoas que não são prisioneiras da vergonha são mais criativas, comprometidas, ousadas e dispostas a tentar inúmeras vezes até fazer dar certo aquilo que querem.
Desse modo, superar sua vergonha e abraçar sua vulnerabilidade é, entre muitas formas, por exemplo:
- pedir ajuda;
- dizer não;
- começar seu próprio negócio;
- tomar a iniciativa daquilo que você tanto queria fazer;
- ir em um primeiro encontro amoroso;
- permitir se apaixonar;
- admitir que está com medo;
- ser demitido;
- ser promovido;
- dizer ‘eu te amo’;
- expor sua obra artística.
E, entre tantas, a minha preferida:
- mostrar alguma coisa que escreveu, textos e histórias, para as pessoas.
Muito além da auto-ajuda
Apesar de muitos terem preconceito com o termo “livro de autoajuda”, esta obra supera seu gênero literário, primeiramente porque é embasada em uma longa pesquisa acadêmica, com dados e relatos, e, principalmente, porque traz reflexões extremamente válidas para se viver uma vida mais saudável e feliz.
A vulnerabilidade pode parecer linda no outro, um ato inspirador de coragem. Mas, ao mesmo tempo, é extremamente temida quando temos que enfrentá-la em nossa própria vida.
Há aqueles que se fecham diante de vivências extraordinárias porque temem o fracasso, os erros e os julgamentos e, assim, se frustram com o distanciamento de seus desejos. Por outro lado, há quem se abre para as coisas novas e aceita se expor, superando o medo da inveja e das críticas e, por isso, acaba sendo mais autêntico, realizado e feliz.
Encerro este texto com duas perguntas muito relevantes que a própria autora cita em seu livro:
O que você tentaria fazer se soubesse que não iria falhar?
E, mais importante do que isso:
O que vale a pena fazer mesmo que fracasse?
Créditos HL
Esse texto é de Gabriela Guratti. Ele teve revisão de Evandro Konkel e edição de Nicole Ayres, editora assistente do Homo Literatus.