Quinta da Poesia – Saudades

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“E a saudade é um lugar
Que só chega quem amou”.
Fábio de Melo

Tenho saudades de minha terra, de minha família, de meus amigos, meus amores. Poetas são seres nostálgicos, sempre relembramos o que amamos, certas vezes o fazemos com lágrimas, em outras com sorrisos, e na maioria delas, lágrimas em meio a sorrisos. Vivenciemos então este maravilhoso sentimento:

Somos apegados a terra, nossa herança, nossas origens, trazemos muito dela em nós, redescobrir através da poesia este amor por vezes bucólico, nos recorda do que verdadeiramente somos, vivenciemos então este sentimento através da espontaneidade de nossa amada poetiza:

Saudades do meu pampa…

campos verdes em terras planas
galopeando no meu crioulo e respirando o ar da chuva que cai sobre meu lombo…
na cavalgada da vida sinto falta daquela gente pura e serena…
fico no meio do agito pinoteando que nem touro bravo; até me chamam de mau domada ou de potra acanhada.

Flávia Quevedo Trindade

Saudades da pessoa amada, nossa alma grita por ela, nossa visão busca ela, em meio a isso o poema nos acalenta. Nos deliciemos então com nosso grande amigo e seu amor para com ela:

O lado mais próximo

Sempre tão linda caminhando sobre a areia frágil
sigo com os olhos teus passos
sigo com os sentimentos as tempestades
e o sol e o mar
és tão linda, tão lindasaio cavalgando a manhã
brincando com as primeiras luzes
estou com a tristeza dos campos vazios…
não estás aqui comigo nas primeiras luzesas palavras saem de mim como lágrimas
ou chuva sobre a aridez do deserto
mas à noite o céu é tão lindo

e há tantas estrelas que parecem contigo!aqui, agora, mais longe

tão perto quanto o vento que toca minha pele

tão certa é a saudade que sinto

distante estou de mim.

Raimundo Soares

O terceiro poema é a homenagem de um pai que ama o seu filho, mas afastado dele está, não consigo imaginar a dor que ele sente, somente através da poesia podemos nos aproximar.É divido em 5 movimentos, postei na íntegra pois seria um crime separá-lo, por intermédio desta maravilhosa obra de arte abracemos este filho então junto a ele com o nosso amor:

VARIAÇÃO EM DÓ MAIOR SOBRE O PRELÚDIO DA ÓPERA “MORFEU” DE JAIR F. DA SILVA JR., OP. 1 “LACRIMOSA”

1º Movimento: Adagio Dolce (Ao Colo).

Com o ímpeto natural da infância,
Abandona brincadeiras e fantasias,
E se levanta, atendendo autômato
Ao indeclinável convite de Hipnos.

Com a voz doce e terna,
E os olhinhos pesados e carentes,
Minha parte mais pura e inocente
Pede-me colo, pede-me para descansar
(pelo menos foi o que pude entender
No desenrolar – ou seria enrolar? – das palavras).

Afetuosamente o recolho
Em meus braços pesados
Pelo labor, pelo sacrifício diário,
Pelo peso largo das horas.

Logo me envolvem
Magicamente seus encantos
E de estar exausto já não lembro;
Apenas o conforto experimento
De sentir seu pequeno corpo contra o meu,
De sentir que do mundo posso protegê-lo,
Da dor e do sofrimento;
De sentir que nunca irei perdê-lo
Naquele instante eterno – como queria
que eterno fosse – para o coração…
Experimento um pouco de paz!

2º Movimento: Andante Cantabile (Ao Embalo).

Em meio ao embalo
Cansado e desafinado
– apenas um prelúdio fraco
aos contos e cantos,
ao mundo de fantasias
da Ópera de Morfeu –
Pouco a pouco
As pequenas pálpebras
Vão dançando em ritmo
Cada vez mais lento… Lento…
Vai mudando o andamento,
Vão mudando os compassos
– de Andante a Adágio;
de Adágio a Lento;
depois Largheto, Largo, Larghissimo…

A cabecinha pesa,
A boquinha se entreabre
E revela os diastemas a decorá-la
Como um diadema de pérolas;
Os bracinhos e perninhas
Desabam suave e lentamente
– em câmera lenta –
Como um Maestro
A finalizar uma regência,
E entre adoráveis
E naturais espasmos
– entre os acordes finais! –
O pequenino amor se entrega
Ao doce canto dos deuses
Dos sonhos em seu mundo
De maravilhas, magia e diversão,
A entreter-se com Fântaso!

3º Movimento: Larghetto Affettuoso (Ao Contemplar).

Cesso o desafinar e passo ao contemplar!
Tão belo, tão pequeno, tão adorável!
Pureza e inocência; delicadeza e ternura!

Repouso meu olhar nas águas doces
E tranqüilas do semblante sereno
Que inspira paz – águas salgadas não são,
pois estas inspiram melancolia, ou agitação! –
E vejo Marcas de Expressão dignas
Dos melhores recitais – Dolce,
Cantabile, Affettuoso, Con amore…

Quisera mantê-lo assim comigo,
Livre do mundo e de seus infortúnios;
Longe de suas Sinfonias pesadas,
Longe da agressividade,
Do conflito e da violência
De um Scherzo na Eroica de Beethoven;
Longe de Réquiens e Stabat Mater
– ou seria Pater? –;
Apenas a tranqüilidade
E o conforto do paterno abraço!

4º Movimento: Largo Con Amore (Ao Adorar).

Com adoração tomo suas mãozinhas
Entre as minhas e me delicio
Com cada manchinha de tinta,
Com cada marquinha de travessura!

Fito seus pezinhos encardidos
E me perco imaginando cada passo
No correr das horas de um dia
Cheio de aventuras e alegrias!

Ao ver o rostinho aveludado,
Levo meus lábios a um terno beijo,
E ao me aproximar de sua face,
Sinto o aroma daquele biscoito preferido,
Do leite quentinho e saboroso,
E percebo que por essas coisas,
Tão pequenas e cotidianas,
É que tanto e mais o amo!

5º Movimento: Finale – Larguissimo Bruscamente (Ao Prantear).

E então, com a garganta apertada
E o nariz em ardência, descontrolado
Me entrego às abundantes lágrimas,
Salgando os pequeninos lábios!

E em um abraço apertado
Molho seu rostinho com minha dor,
Com minha tristeza; com o pranto
Do temor, da insegurança, da incerteza!

Tudo o que ele queria
Era dormir em meus braços,
E tudo o que anseio é senti-lo
Adormecendo em meu abraço
– estamos os dois realizados
nesse singelo momento!

Dói não vivermos juntos.
Dói não poder adentrar
A recamara a cada átimo
Para vê-lo em noturno repouso,
Em paz descansando!
Dói não poder adormecer sabendo
Que está logo ali, ao lado… mas basta!
Apenas doces combinam com crianças
– não o fel da tristeza e nem o sal das lágrimas!

Não quero mais lágrimas,
Não quero mais dor!
Quero apenas sonhar como ele,
Sonhar seus sonhos, sonhar junto a ele!
Durma em paz, meu pequeno infante!
Durma em paz, meu doce rebento!!!

Jair F. da Silva Jr.

Venha participar conosco deste gostoso Sarau virtual, toda a quinta nos encontramos aqui. Bem como, envie seus poemas para [email protected], pois o que é publicado aqui vem do público, por vezes algo meu, sempre seguindo um tema, este é um espaço aberto e plural para todos. Então, leia, sinta, ame, curta, comente, participe! Vamos todos viver de poesia em comunhão. Deixo-vos com um recital ocorrido no Sarau Facamolada  e que me alegra com a saudade de meus amigos:

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=fdS0SHWEioU]

Juliano Rodrigues

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