Por meio do rigoroso silêncio, Raduan Nassar educa aqueles escritores que são egocêntricos e barulhentos
Na última sexta-feira, saiu matéria na Folha de S. Paulo sobre Raduan Nassar. O escritor, recluso há mais de três décadas, acaba de completar 80 anos de vida. Momento em que está prestes a ser traduzido no Reino Unido pela coleção Penguin Classics. Para os que não sabem, sua obra possui três títulos: o romance Lavoura arcaica (1975), a novela Um copo de cólera (1978) e a coletânea Menina a caminho (1997). Dos três, li apenas o primeiro. No segundo ano do curso de Letras, estava entre as leituras obrigatórias duma disciplina ministrada pelo professor Zaga, grande entusiasta das comparações entre literatura e outras mídias. Tornou-se, à época, um dos melhores livros que já havia lido.
Poético, verborrágico, violento. História rural, sangrenta, sobre o filho desgarrado que volta para casa. Família libanesa tradicional, guiada por valores patriarcais rígidos. Único lugar no mundo onde não poderia haver um relacionamento incestuoso entre irmão e irmã. Há o filme, lançado em 2001, dirigido por Luiz Fernando de Carvalho, mestre das adaptações literárias – aprovado pelo romancista.
Raduan intriga por seu silêncio. Nos anos 1980, como um marido que sai para comprar cigarros e não volta para a esposa, abandonou a literatura. Virou fazendeiro. Nunca mais escreveu. Divórcio definitivo, sem recaídas. Não concede entrevistas, pouco aparece em público, raramente conversa. Talvez ele represente uma geração silenciosa prestes a ser extinta, a dos autores que pouco falam. Impossível não se lembrar dos brutalistas Rubem Fonseca e Dalton Trevisan.
Os novos escritores que aí estão revelam, sem nenhum pudor, pelas redes sociais, tudo o que acontece nas suas vidas. Barulhentos, fazem algazarra, comemoram o fato de terem seus livros entre os mais vendidos – o que, como sabemos, não é sinônimo de qualidade. Se a escrita é uma atividade que requer isolamento, como alcançar as palavras certas em meio a tanta bagunça?
Paulo Roberto Pires, editor da revista Serrote, afirma: Nassar educa pelo rigor do silêncio. Fica a dica aos mal educados e egocêntricos, barulhentos.