“Pois convivia com aqueles mascarados, dançava com eles, admirava a beleza de seus corpos e ja
mais vira seus rostos. Não sabia seus verdadeiros sonhos, suas verdadeiras motivações. Seus ódios e suas paixões”.
Depois dalgum tempo a flertar com a leitura do livro de Ana Cristina Rodrigues, paguei minha dívida moral; venci a procrastinação e li AnaCrônicas: Pequenos contos mágicos.
Num papo de pé d’ouvido, para leitores íntimos, vou dizendo de cara que você não deve esperar nada de histórias “pseudoeruditas” daquelas com tanta profundidade que levam vinte páginas para te falar uma característica do personagem, que muitas vezes sequer é relevante para a história – abarrotem a caixa d’e-mails destes autores, falando sobre a “Arma de Tchekhóv”. Certo, eu não sou o maior exemplo de objetividade, vide resenha que você lê, mas sobre o livro da Ana Cristina Rodrigues posso dizer que sente-se os ecos célticos em suas histórias, embora os contos não sejam todos deste estilo. Minha, possivelmente, uma tentativa de, metáfora, diz respeito ao clima da obra, pois a leitura vem acompanhada de uma fluidez que te leva a se sentir na beira duma fogueira a ouvir uma memorável história ancestral.
Seria hipocrisia de minha parte afirmar que gostei de todos os contos, pois alguns diferem diametralmente do meu gosto literário – aquilo que realmente saboreio lendo –, no entanto, dois contos me chamaram muito a atenção.
A Princesa de Toda a Dor é, em minha opinião, uma tentativa de criar uma mitologia brasileira de antes da ocupação do Brasil pelos portugueses. A história deixa um gosto de que poderia ser mais comprida, tamanho o envolvimento que o relato indígena provoca.
O Baile de Máscaras, a que pertence a frase d’abertura desta resenha, sugere um mundo onde as pessoas vivem num universo a que se refere o título do conto; até o dia em que um dos integrantes da festa resolve tirar a sua máscara, pois não lembrava como era seu rosto; o resultado é o ponto alto do conto.
Enfim, este é um livro daqueles que se lê numa pegada só – se vocês não for um leitor sedentário, que cansa rápido –, além de contar com o tento de ser recompensador para quem consome as linhas destas histórias, pela multiplicidade de temas abordados.