” Crianças! Provocar o Armagedon pode ser perigoso. Não tentem isso em casa.”
Certo, então eu sento e resolvo ler um livro de Neil Gaiman e Terry Pratchett falando sobre o Apocalipse. Isso. Exatamente. Eu sabia que ia ser divertido, mas não esperava tanto. Nalguns momentos, lembrou a hilaridade do Guia do Mochileiro das Galáxias, noutros, alguma outra coisa que não sei definir exatamente, porém o Gaiman sabe como colocar esta coisa nas suas histórias.
“… era preciso apoiar qualquer um que se considerasse caçador de bruxas da mesma forma que os EUA tinham de dar apoio a qualquer um que se considerasse anticomunista”.
Então vamos por partes e tudo junto. Temos um anjo comerciante de livros raros (Aziraphale); um demônio que não caiu exatamente, apenas foi Rastejando Lentamente Para Baixo (Crowley); os cavaleiros do apocalipse (Morte, Guerra, Fome e Poluição); uma bruxa que morreu há 300 anos (Agnes Nuter); uma praticante de ocultismo e descendente profissional, de Agnes Nuter (Anathema Device); o garoto Anticristo (Adam); e o coro completo de tibetanos, alienígenas, americanos, atlantes, e outras raras e estranhas criaturas dos Últimos Dias.
A história de Gaiman e Pratchett – nunca tinha lido nada deste último – ironiza a necessidade que as pessoas têm de impor coisas paras as outras. Através de um estilo questionador, os autores vão pontuando detalhes na trama que se inicia no éden e pula para o primeiro dia da última semana do mundo. Algo interessante a se destacar é um momento em que um personagem muito importante – sem spoilers, ou quase isso – enfrenta o conflito de ser quem ele quer ser ou o que os outros querem que ele seja. Bônus para quem lê, certamente.
Fica intrínseco a crítica aos comportamentos humanos, como neste trecho:
“E por outro lado, você tinha gente como Ligur e Hastur, que tinham tanto prazer em fazer o desagradável que não seria difícil confundi-los com humanos”.
A título de contexto, Ligur e Hastur são demônios no livro.
Algo que sempre me desperta um pouco a curiosidade é como escritores conseguem escrever histórias em duas pessoas. Deve ser um processo um pouco complicado e com certeza mais lento; e claro, há de se ter um relacionamento muito forte ou a história se perde. Quem sabe, eu só esteja falando besteira.
Para finalizar, foi uma leitura divertida, embora às vezes soasse um pouco confusa a enorme quantidade de referências à cultura inglesa, mas o resto surpreendeu. Recomendadíssimo.