Resenha: Carrie, a estranha – Stephen King

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Considerando que este é o primeiro romance de Stephen King publicado, não se poderia dizer que teria como começar de forma melhor. Carrie, a estranha tem seus prós e contras, mas primeiro vamos dar uma olhada no conflito da história.

Antes que o tema de bullying fosse tão recorrente como é hoje, King escreveu este livro, partindo da personagem Carietta White. Filha de uma religiosa inconsequente, ela cresceu num ambiente hostil de fanatismo exacerbado. O resultado foi uma adolescente tímida e alvo das mais cruéis brincadeiras no hospício que é uma escola, afinal não poderia ser diferente, pois além do comportamento que repetia a mãe, ainda havia as suas características físicas: troncuda, com espinhas no pescoço, nas costas e nas nádegas, segundo o livro. Logo no começo da história, o leitor se depara com o acontecimento que desencadeia todo o enredo, pois Carrie está no banheiro da escola e tardiamente, aos dezesseis anos, acontece a sua primeira menstruação durante o banho. Os chuveiros não têm divisórias e neste momento todas as outras meninas passam a rir dela. Sem ação, Carrie começa a ser alvejada por modess que vêm de todos os lados, atacados por suas colegas de educação física. A partir daí, atribui-se a este momento o despertar dos poderes telecinéticos de Carrie; o que acabará por dar o tom de horror às situações que virão a seguir.

A forma como Stephen King vai contando a história também é muito interessante. Desde relatórios científicos, passando por notícias da trama, trechos de livros de pessoas que passaram pelo caso, até o fio condutor da história, o relato vai se construindo pela junção de vários fragmentos que vão se apresentando ao leitor. Esta forma se torna interessante por seu dinamismo; é como se não fosse apenas o escritor nos contando a história, mas várias versões do mesmo caso. Isto tudo atribui veracidade à ficção, afinal  as verdades não teriam todas as suas versões? Cada versão é uma realidade ficcionada.

Há outra coisa que me chamou a atenção neste livro, o Stephen King se colocando como personagem. Em dois momentos, ele consegue isso de forma tranquila, sem forçar demais. Na primeira vez, como professor da sétima série: “Carrieta White apresentou o versinho que se segue como trabalho de poesia da sétima serie, e foi aprovada. O professor King, que ensinava inglês, nesta série, disse: não sei por que o…”. Mais pra frente, Stephen King aparece de novo, supostamente, como outro personagem: “Na mesa o professor Stephen… um homem alto que estava começando a engordar, dobrava distraidamente sua papelada para guardá-la em sua velha pasta marrom”. Penso que a forma como ele se colocou no texto foi realmente interessante, pois acresceu num contexto geral.

Finalizo dizendo que é um bom livro, não o melhor do autor, na minha opinião, pois prefiro o A Zona morta, mas é uma história que mais intriga que assusta, dependendo de cada leitor, claro.

Deixo abaixo, o meu trecho preferido:

“Orou, mas não obteve resposta. Não havia ninguém – ou se havia, seja lá quem fosse, estava recuando diante dela. Deus desviara dela seu semblante; e por que não? Todo este horror era tão obra Dele quanto dela. E assim saiu da igreja para…”.

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