Resenha: Fios de Prata – Reconstruindo Sandman – Raphael Draccon

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O primeiro livro que leio de Raphael Draccon, Fios de Prata – Reconstruindo Sandaman, chama-me a atenção em vários aspectos. Uma grata surpresa nas minhas leituras já na reta final do ano.

Como em boa parte dos enredos modernos, a história se desenrola em dois fios narrativos. Duas realidades que se cruzam e se relacionam de modo fantástico. Na primeira linha, o leitor se depara com o protagonista Mikael Santiago, popularmente Alejo, um brasileiro jogador de futebol que está se transferindo para um time da França; logo também entra a ginasta brasileira Ariana. No entanto, ele tem pesadelos diários em sonhos totalmente nítidos e marcantes. Na segunda linha, é apresentado o Sonhar com suas três divindades, Morpheus, Phobetor e Phantasos; onde uma conspiração se arma e surge a ameaça de uma guerra.

Para os fãs de Sandman, de Neil Gaiman, como eu, antes de começar a ler é inevitável o receio e a pergunta, o que esse cara quer fazer? “Reconstruindo Sandman”, um subtítulo ousado, mas o que ele quer dizer? Somente a reconstrução do sonhar, a que Raphael Draccon se propõe, já renderia um bocado de discussões. Entretanto, seria um erro propor-se a comparar e dizer se a visão de Gaiman ou a de Draccon é a melhor. São duas obras diferentes. O que o autor de Fios de Prata fez foi ampliar o sonhar, caracterizando-o de forma mais semelhante à mitologia grega, já que segundo esta, Hypnos (personificação do sono) teria três filhos: Morfeu (Morpheus), Fântaso (Phantasos) e Icelo (Phobetor). O livro alcançou o resultado a que se propôs.

Outro ponto a se observar é uma tecla que venho batendo em relação aos escritores brasileiros de fantasia. Boa parte dos que leio escrevem de forma tão parecida, que se você não visse o nome na capa, não saberia se é um ou outro. Não posso dizer a respeito de outros livros de Raphael Draccon, pois ainda não li, mas este apresenta uma linguagem diferenciada, marcada principalmente por uma cadência que parece característica do escritor.

Como um militante do movimento “antiautoajuda”, eu sempre ficou com um pé atrás quando se trata de ler um livro que tem a temática sonho. Apesar disso, cada fragmento do livro que eu lia despertava um pulsar dentro de mim, uma mescla de esperança e fé, nalguns projetos que tenho. Parece piegas falar desta forma, mas não posso deixar de transmitir este sentimento. O escritor ofereceu uma porção de sua alma ao leitor. Ficou claro.

Enfim, quando acabei de lê-lo, bateu aquele orgulho de saber que foi um brasileiro quem escreveu. Vejam bem, não estou falando de um livro perfeito, mas certamente de um que surpreende. Fica claro que a nossa literatura está caminhando por novos territórios e isto empolga qualquer leitor entusiasta, como eu.

Recomendo demais este livro.

“Tu inspiraste Rowling, e foi nas terras de Morpheus que se moldou Hogwarts. Tu inspiraste Tolkien, e foi nas terras de Phantasos que se anexaram as extensões de Terra-Média. Tu inspiraste Lovecraft e em minhas terras se fixou Miskatonic. Então eu te pergunto com sinceridade, anjo: até onde vai tua vontade de ser coadjuvante em um mundo de formas e pensamentos?”

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