“A obra Memorial do Convento apresenta duas histórias paralelas: a construção do Convento de Mafra por D. João V e a história de amor entre Baltazar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas envolvidos na construção da Passarola idealizada pelo Pe. Bartolomeu Dias. A primeira história revela episódios da história portuguesa no tempo da construção do Convento de Mafra, um grandioso monumento construído pelo rei D. João V, que persuadido pelo clero, oferece a obra a Deus para que a rainha engravide e lhe dê um herdeiro. A construção do Convento de Mafra envolve o sacrifício da população pobre, fazendo muitas vítimas no carregamento da grande pedra para o pórtico. A segunda é a história de amor entre Blimunda e Baltazar; pessoas humildes do povo, que se unem ao Pe. Bartolomeu Lourenço em seu sonho de voar, através da construção de uma máquina, a qual chamam de passarola. Blimunda tem poderes especiais, consegue ver as pessoas por dentro e se torna a responsável por captar as vontades das pessoas moribundas. As vontades são recolhidas e servem de combustível para a passarola, uma espécie de metáfora de liberdade. Pe. Bartolomeu, Baltazar e Blimunda conseguem fazer com que a máquina voe, porém, o padre idealizador passa a ser perseguido pela inquisição, e foge para Toledo, onde acaba morrendo tempos depois. Baltazar e Blimunda cuidam da passarola que foi escondida. Baltazar durante a manutenção da máquina acaba voando nela e não mais voltando; Blimunda procura-o por nove anos por todas as partes do país, até que em Lisboa, durante um auto de fé, reconhece Baltazar a caminho da fogueira. Quando Baltazar está para morrer, sua vontade de desprende e é finalmente recolhida dentro do peito de Blimunda.” (http://resumos.netsaber.com.br/ver_resumo_c_1332.html)
José Saramago constrói sua narrativa a partir de fatos históricos, como a construção do convento em Mafra, mas também apresenta a fragilidade , a humanidade e o grotesco em seus personagens. Ao apresentá-los tão humanos, tão diferentes do tipo “heroi”, distancia-se do mito histórico, da Família Real e da Igreja “perfeitas”. Em contrapartida, ao apresentar os componentes mágicos (os poderes de Blimunda, por exemplo) o autor distancia-se da realidade, mas aproxima-nos da alma humana.
A história não tem o “final feliz” convencional, mas um final que pode representar a verdade de cada personagem: Baltazar foi morto foi porque voou (o “heroi” morre no fim…), mas ele conseguiria renegar sua experiência e anular o seu sonho? Viveria feliz abandonando a possibilidade de voar novamente, ele que esteve tão “perto do sol”? Viveria feliz com as “mentes fechadas” ao seu redor, sabedor de que poderia fazer coisas impossíveis acontecerem? Quanto à Blimunda, que fica vagueando sozinha pelo mundo (a heroína sozinha, sem o príncipe…): é uma sobrevivente e remanescente do sonho. Somada à sua vontade, recebeu a vontade de Baltazar. Talvez ela voe um dia…
Referências
SARAMAGO, José. Memorial do Convento. 40ª ed. Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 2010.