Após a leitura de Minha Querida Sputnik, eu fiquei na ansiedade de ler mais alguma coisa deste japonês que mistura coisas ocidentais e orientais ao mundo pop de forma Cult (não me peça para explicar o que eu quis dizer). Então caiu na minha mão o livro Norwegian Wood; e eu deslizei pela leitura como só se pode fazer num livro de Murakami.
Narrado em primeira pessoa, numa espécie de rememoração, Watanabe, o personagem principal, começa contando sua história a partir dos 16 anos, relacionando-se com Kizuki, seu melhor amigo, e a namorada dele, Naoko. Plano sob plano, a trama vai avançando; logo, dois anos depois, Watanabe já é um estudante universitário, morando num alojamento e cursando Arte Dramática. Divide um quarto com um curioso personagem a quem passa a chamar de nazista. Nesse ínterim, ele passa a trabalhar três vezes por semana numa loja de discos para complementar a renda. No alojamento, também conhece Nagasawa, um rapaz que se dá bem em tudo, mas ignora completamente os outros, até ficar curioso em relação a Watanabe, em razão de ele estar lendo Scott Fitzgerald. Nagasawa o arrasta para saídas noturnas onde conhecem garotas e vão para cama com elas, porém algo sempre está errado para Watanabe. Num desenrolar simultânea, há o estranho relacionamento com Midori, uma secundarista que acaba cursando uma matéria com ele.
Expondo desta forma como fiz, parece mesmo que as coisas não estão interligadas, que nada de especial acontece, mas é impressionante a força de Murakami ao narrar a história, apesar de usar uma linguagem extremamente simples. As metáforas são leves, porém dotadas de uma forte carga poética, fazendo jus à profundidade dos personagens criados por ele.
“Para nós, bastava andar. Como numa cerimônia religiosa destinada a curar nossos espíritos, nós nos concentrávamos na marcha”.
Se já não bastasse a qualidade da história, Murakami; impõe um verdadeiro arsenal cultural em termos de literatura, música e cinema. A profusão de escritores e referências musicais citadas pode se ver a cada parte; é uma espécie de charme a mais na literatura dele.
“— Se quiser ouvir o resto, eu continuo amanhã. É uma história muito longa e difícil de contar toda de uma vez só. — Você está parecendo Sherazade. — Desse jeito você nunca vai voltar para Tóquio — afirmou Reiko rindo também”.
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O verdadeiro tema do livro
“A morte não é o oposto da vida, mas uma parte intrínseca da vida.”
Talvez o mais interessante para mim na leitura deste livro, foi o fato de, a princípio, ter me frustrado um pouco, pois não me parecia nada demais; no entanto, de repente, tive aquele estalo sobre a temática da obra: jovens que se suicidam. Pode parecer pesado falar de algo assim, mas em cada atitude de personagem, o livro se fazia entender. Não é um questionamento quanto às motivações do ato, porém sim uma imersão nos sentimentos e reações de quem toma uma atitude como esta.
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Para finalizar, penso que não seja um livro que exatamente todos venham a apreciar. Tem um ritmo próprio, só dele, mas que é recompensador. Às vezes é tão real que não se pode largar, transformando-se na num ânsia de consumir cada linha. Realmente valeu a leitura.
Deixo meu trecho do livro (e que, aliás, concordo):
“Na segunda semana de setembro, cheguei à conclusão de que o ensino superior era desprovido de qualquer significado. Resolvi entendê-lo como um período de treinamento para suportar o tédio. Não havia nada de especial que eu desejasse realizar na sociedade para me fazer largar tudo naquela hora. De modo que continuei indo diariamente à universidade, assistia às aulas, fazia anotações e, no meu tempo livre, ia para a biblioteca ler livros ou fazer algum trabalho de pesquisa”.