Resenha: O Filho eterno – Cristóvão Tezza

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Alguns consideram apenas uma obra biográfica, no entanto o autor afirma que é ficção, embora tenha escrito baseado em fatos de sua vida. E acrescenta: “o bom leitor sabe separar as coisas” (Mais Cruzeiro, 10 de janeiro de 2009). Não é preciso conhecer a “formação-histórico-genética” de O filho eterno para apreciar a obra em sua plenitude. O romance de Tezza promove reflexões sobre os sentimentos do pai de um menino com a síndrome de Down, promove uma viagem aos anos 70 e 80 e, entre outros assuntos, aborda a questão dos imigrantes ilegais na Europa (esse assunto ainda é problema hoje…). Considerando apenas estas abordagens, a obra já cumpre seu papel: pode tanto “tocar” o leitor através do olhar do pai, repudiando-o ou aproximando-se dele, quanto promover uma “viagem” pelos demais temas.  Além disso, há passagens que podem causar um certo desassossego:

– para os crentes em Deus: […] Mais um dos testes medonhos do Velho Testamento, em que um deus sádico extrai de suas vítimas até a última gota de alma, para que ele definitivamente não seja nada, apenas uma sobra da sombra de um poder maior.” (p.93)

– para os “acomodados” que jamais refletem sobre o papel da televisão – assunto que não é nenhuma novidade para quem nasceu antes dos anos 90, mas para a juventude atual pode representar um alerta sobre o poder da mídia ou ainda uma oportunidade de descobrir o que era a “cortina de fumaça” criada para encobrir os porões da ditadura no Brasil.

[…] e que acreditou piamente ser a Rede Globo a mãe de todos os males do país, figura tenebrosa a fazer dos então noventa milhões de habitantes uma massa inerte de robôs idiotas repetindo tudo o que viam e ouviam…” (p.192)

Enfim, o romance sustenta-se sem o conhecimento da vida do autor. E considerando que “o autor é finito, mas a obra permanece”, poderá promover, quem sabe, até pesquisas dos leitores mais jovens para que descobrir o que é, de fato, um mongolóide (termo vulgar usado para definir as pessoas com Síndrome de Down).

Por Debora Jael Rodrigues de Vargas

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