Depois de tanto ouvir falar de G. K. Chesterton, principalmente pelo Neil Gaiman, resolvi ler algo deste autor. Por recomendação de um amigo, comecei por O Homem que foi Quinta-Feira. Para falar deste romance, recorrerei a duas perspectivas, mas antes olhemos a história.
O autor começa por descrever o “arrabalde de Saffron Park”, um lugar que apesar de nunca se ter produzido arte verdadeira é considerado uma colônia artística. É então descrito o local com uma espécie de caracterização mágica, embora de forma alguma se abandone, a princípio, o realismo. O leitor é então levado a conhecer o que acredita se o protagonista, Lucian Gregory, um sujeito anarquista “…de longa cabeleira cor de cenoura e rosto impudente, talvez não fosse um poeta, mas era decerto um poema”. No entanto, a partir desta caracterização burlesca, é apresentado o verdadeiro personagem principal, Gabriel Syme, um homem de “…tímidos olhos azuis e da barba loira, pontiaguda”. Syme desafia o impulsivo Gregory, afirmando que ele não é um anarquista de verdade; e, a partir daí, as viradas na história começam a acontecer.
Agora vamos às duas perspectivas que cite a princípio:
1) Como história, o leitor é logo envolvido pela narrativa de Chesterton, por conter um apelo poético; apesar de, em alguns momentos, tornar-se um pouco espessa, como alguém que se acostumasse a comer glacê e depois se deparasse com a massa do bolo socada, tendo que empurrá-la goela abaixo. Outra questão que logo se nota, dentro da perspectiva da história, é que o autor fez com que, praticamente, todos os personagens possuíssem dois lados. A princípio, o leitor se surpreende quando as primeiras inversões de expectativas acontecem, mas a partir de determinado ponto, faz-se previsível aonde cada personagem vai chegar.
2) Da perspectiva ideológica, confesso que vi o autor tentando “monstrificar” a ideologia anarquista, da qual sou, de certa forma, adepto. Alguém que não conheça as ideias e leia este livro de Chesterton, certamente terá horror ao ouvir falar da expressão anarquia. A mera leitura de Walden ou A Vida Nos Bosques, de Henry David Thoreau, por muitos considerado o pai da anarquia, já põe de lado qualquer preconceito possa ser firmado no livro desta resenha.
Para que fique claro a função do personagem principal, Gabriel Syme, trago este trecho que explica o polícia filósofo:
“O trabalho do polícia filósofo é ao mesmo tem mais audacioso e mais sutil que o do polícia vulgar. Este vai aos tascos prender ladrões, nós vamos aos chás de artistas prender pessimistas. O detetive vulgar descobre, por uma agenda ou por um diário, que se cometeu um crime. Nós, num livro de sonetos, descobrimos que se vai cometer um crime. Temos que descobrir a origem destes horríveis pensamentos que empurram os homens para o fanatismo e o crime intelectual”.
Lerei outros livros do autor para ter uma melhor opinião de sua obra; então continuarei postando aqui mais opiniões sobre os livros de G. K. Chesterton.
//
//