Resenha: O Pássaro Raro – Jostein Gaarder

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O Pássaro Raro foi o primeiro livro do escritor norueguês Jostein Gaarder, mesmo autor do O Mundo de Sofia. Os dez contos exibem a capacidade de Gaarder, ainda  que de forma um pouco embrionária, no que diz respeito a abordar temas como a existência humana de forma simples e bem humorada.

Meus contos preferidos foram:

O Scanner do tempo: em que o autor fala de um futuro hipotético em que a humanidade criou uma grande invenção, o scanner do tempo. Esta invenção fez com que as pessoas pudessem ver numa tela qualquer acontecimento da história da humanidade. Esta situação, no entanto, é potencializada pela imaginação de Gaarder que a conduz por possibilidades e consequências.

O Diagnóstico: o mais longo do livro, este conto relata a história de Jenny, que depois de ser diagnosticada com câncer, passa a viver uma viagem intensa e espetacular em sua própria existência.

O Catálogo: é uma história no mínimo inusitada. O conto é o relato do redator-chefe do “catálogo”, que é uma espécie de obra onde cada ser humano deve contribuir de quatro em quatro anos com um texto de sete a catorze linhas. A crítica do autor vem de brinde nas ironias como esta, em que ele afirma que quatro anos é o suficiente para uma pessoa ter no mínimo um bom pensamento.

Um dos grandes destaques na literatura de Gaarder é o seu questionamento sobre a realidade, algo que muito me agrada, além de me incomodar, obviamente, este é o objetivo. Os trechos abaixo comprovam isso:

“Não sei se estou sonhando ou se eu mesmo sou o sonho. Não posso garantir que esteja vivo. Mas estou bastante certo de que vivi. Bem, na verdade, isso já não tem importância”. (pg. 32)

“Contudo, seria inútil contar às outras pessoas. Elas caíam na rede muito facilmente, estavam apaixonadas demais pela ilusão. Ainda estavam fechadas no círculo do encantamento, estavam presas demais em seu próprio ego, em seu pequeno, pobre e perdido “eu”. (pg. 80).

Outro detalhe filosófico recorrente nos livros do escritor norueguês é o tema da fascinação com a vida, como pode ser conferido neste excerto:

“Chamo sua atenção para algo que, segundo meus critérios, deveria abalá-lo nas sua mais profundas convicções, mas ele apenas abana a cabeça e prossegue apressadamente. Em vez de perceber que o mundo é fantástico, ele acha que estou fantasiando. E não entende absolutamente nada. Como ele precisa de um mundo previsível, ele me tacha de louco. Para que ele próprio não enlouqueça, convence a si mesmo de que alguma coisa está errada comigo”. (pg. 119).

Para finalizar, é uma leitura daquelas que te tiram do lugar comum; e isso, por si só, já o suficiente para valer a pena.

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