Para quem não é fã ou ainda não conhece a obra de Ray Bradbury, O zen e arte da escrita é um jantar de gala, daqueles que você fica com a consciência pesada de ter comido tanto. Já para quem já é fã do escritor, o livro explora meandros históricos do grande “B”, mostrando a criança-adolescente-adulto notável que ele foi. Contudo, há ainda uma terceira classe de pessoas que podem/devem se interessar por este livro, quem deseja aprender a escrever ficção.
O livro é uma coletânea de ensaios, que Bradbury escreveu ao longo de sua proeminente carreira como: contista, romancista, poeta e roteirista. É possível sentir a vitalidade do escritor em cada linha pulsante do livro.
“Toda manhã, pulo da cama e piso num campo minado. O campo minado sou eu. Depois da explosão, passo o resto do dia juntando os pedaços. Agora é sua vez. Pule!”.
Bradbury vai nos familiarizando com sua trajetória, como no momento em que começou a receber os primeiros reconhecimentos depois de dez anos escrevendo e viu o quanto isso foi importante para ele, pois “… você olha e vê ao redor um conjunto de noções defendidas por outros escritores, outros intelectuais que fazem você corar de culpa”. Mesmo que ele não escrevesse por reconhecimento; este reconhecimento foi indispensável.
A originalidade do escritor é presente até mesmo em como ele explica o seu processo criativo; pois segundo ele, após criar um situação inusitada, imagina algum personagem e simplesmente o solta; então ele sai correndo atrás do personagem e digitando tudo que ele faz; e no final tem uma história.
No ensaio que dá título ao livro, O zen e a arte da escrita, o autor expõe a sua opinião sobre exercer a profissão de escritor; mas ele considera importante que quem deseja escrever, encare o desafio; “… vamos dar uma boa olhada nesta palavra francamente repugnante, ‘trabalho’. Ela é, acima de tudo, a palavra em torno da qual a sua carreira vai gira ao longo da vida”.
Finalizando, o livro não esconde as dificuldades que alguém pode encontrar em querer ser um escritor; porém, ao mesmo tempo, mostra um apaixonado pelas palavras. É um encontro entre a vida e a arte.
Deixo um dos meus trechos preferidos do livro:
“Se algo é ensinado aqui, é simplesmente o relato de vida de alguém que começou em algum lugar – e seguiu em frente. Nunca planejei muito meu caminho pela vida e, sim, fiz coisas e descobri o que elas eram e o que eu era depois de tê-las feito”.