Resenha: Os Vagabundos Iluminados – Jack Kerouac

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Um pouco mais de Kerouac na vida; e um leitor mais exigente.

Quando peguei pra ler o Vagabundos Iluminados, esperava mais do mesmo.  Mas evitei a leitura de outras resenhas, ou discussões em fóruns, pela vontade de ter uma opinião própria, acima de tudo; e um desejo de que estivesse enganado.

Eu estava.

Vagabundos Iluminados, de Jack Kerouac, publicado em 1958, retrata a história de Ray Smith, um aspirante a escritor que conhece Japhy Rider. Japhy é um jovem zen-budista que pratica montanhismo, valorizando a vida junto à natureza – lembrei de Thoreau quando fui conhecendo o personagem. O livro poderia ser dividido em quatro partes: a primeira, quando Ray conhece Japhy e eles passam a se relacionar, tendo os outros personagens quase que apenas como pano de fundo; a segunda, quando Ray retorna à casa de sua mãe, no Natal, e tem a sua iluminação, passando a frequentar um bosque diariamente; a terceira, na volta dele à cidade de Japhy, quando dividem o barraco de um amigo, com direito a muitas orgias e bebedeiras com mulheres, no estilo beatnik; e a quarta, de Ray Smith indo trabalhar no Pico Desolation.

“Japhy, fico contente de ter conhecido você. Vou aprender tudo a respeito de arrumar mochilas e o que fazer para me esconder nestas montanhas quando me enjoar da civilização. Na verdade, sou grato por ter conhecido você.”
“Bom, Smith, eu também sou grato por ter conhecido você, por aprender como se escreve de maneira espontânea e tudo mais.”
“Ah, isso não é nada”.

O livro, acima de tudo, fala da amizade entre os dois; um aprendizado de mão dupla de um e outro. Ray Smith não cansa de aprender com Japhy: “[ele] não precisa de dinheiro nenhum, tudo o que necessita está dentro da mochila com aqueles pacotinhos de comida desidratada e um bom par de sapatos e lá vai ele desfrutar dos privilégios de um bom par de um milionário em um ambiente desses”. Penso que há algo implícito aqui, uma exaltação do valor do outro e da ajuda mútua, como na bela descrição de Kerouac quando os dois amigos, juntamente com Morley, escalam uma montanha e eles vão se ajudando. É um trecho incrível, mas recomendo que o leiam no contexto do livro, pois seria um crime colocá-lo aqui.

Diferente do alucinante On The Road, esta é uma leitura de paz e tranquilidade. Consegue ser um livro de espiritualidade sem apelar para o misticismo barato, tão comum em nossos tempos.

Com prazer, indico este livro para uma leitura acompanhada de um copo de chá, num ambiente em companhia da natureza; ou até mesmo como um refrigério em meio ao caos urbano. Não há como ler este livro e não querer uma profundidade semelhante nas próximas leituras.

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