Resenha: Precisamos falar sobre o Kevin – Lionel Shriver

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 “É só isso que eu sei. Que, no dia 11 de abril de 1983, nasceu-me um filho,  e não senti nada. Mais uma vez, a verdade é sempre maior do que compreendemos. Quando aquele bebê se contorceu em meu seio, do qual se afastou com tamanho desagrado, eu retribui a rejeição – talvez ele fosse quinze vezes menor do que eu, mas naquele momento, isso me pareceu justo. Desde então, lutamos um com o outro, com uma ferocidade tão implacável que chego a admirá-la.”

Quinta feira, mais um dia comum. Kevin, quase 16 anos, invade sua escola e mata sete colegas, uma professora e um funcionário. Poderia ser apenas mais um daqueles clichês que estamos acostumados a ver tanto em filmes, baseados em casos reais. Mas ai é que começa a parte boa, “Precisamos falar sobre o Kevin” não é nem um pouco previsível. Lionel Shriver consegue criar uma atmosfera surpreendente para contar sua história.

O livro é narrado por Eva Khatchadourian, mãe de Kevin, que desde o momento inicial do livro deixa claro: nunca quis ter filhos. Assim, já temos uma ideia do tipo de relação mãe/filho que vamos ver pela frente. Kevin é mostrado como um garoto problemático, que parece desde sempre carregar um tédio extremo de tudo e todos e desde sempre parece ser mau.

Com o passar das páginas, Eva relembra, através de cartas, todos os momentos em família vividos por ela, Kevin e Flanklin, seu marido completamente cego quanto à personalidade verdadeira do filho. Além de momentos profundos de conversa entre Eva e Kevin, já no reformatório. Tudo para tentar entender os fatos que levaram até a “quinta-feira” e destruíram sua família. Quem realmente foi o culpado? Alguma coisa poderia ter sido evitada?

Uma coisa que não se pode dizer é que Eva seja um exemplo de mãe, ela expõe seus pensamentos sem nenhum pudor, podemos ver tudo o que ela realmente pensa, e isso é uma das coisas que mais impressiona. Todos os sentimentos que ela vivenciou nos momentos descritos são transmitidos de maneira imparcial. Isso reflete em Kevin, pois nada sobre ele é escondido e o vemos crescer, passando de uma criança calada e dissimulada, para um adolescente inteligente, manipulador, quieto e com um ódio cada vez mais aparente. Até chegarmos a “quinta-feira”.

O final é surpreendente. O livro todo é perfeitamente detalhado, e o desfecho é ainda mais (se isso for possível). Nas últimas páginas, tudo que imaginamos e supomos antes, pode mudar em uma página e voltar a fazer sentido em outra, e muito nos é revelado. Ao terminar, acredito que cada um tirará suas próprias conclusões. Tudo que eu disser aqui ainda vai ser pouco.

Por fim, tenho algumas considerações…

Primeiro: Acredito que todos sabiam que recentemente o livro foi adaptado para o cinema (se não sabia ficou sabendo agora). Como sempre, o livro é muito muito muito melhor, mas muito melhor mesmo. O filme não conseguiu transmitir nem metade do que lemos no livro, e a história fica superficial e confusa, com muita coisa por ser explicada (apesar de atuações excelentes). Então uma dica: Se você não viu o filme ainda, leia o livro primeiro.

Segundo: Desde 2009 que eu tinha a curiosidade de ler essa obra, na época o vi em uma livraria daqui e por pouco não comprei. Me arrependo disso até hoje, pois quando finalmente comprei, havia apenas a versão com a capa baseada no filme. E infelizmente, como acontece sempre que um livro tem a capa mudada para aproveitar o lançamento no cinema, a arte ficou horrível. A capa anterior (na foto), faz referência a Kevin de forma excelente, nos dando uma ideia do que esperar do garoto, ela nos chama para falar sobre ele.

Terceiro: Achei simplesmente incrível a maneira como a história foi narrada. As cartas (destinadas para Franklin) dão uma veracidade a mais para a trama, e nos fazem sentir ainda mais envolvidos pelos dilemas de Eva, mais próximos dos personagens, quase como se fossemos da família.

Você realmente precisa ler sobre o Kevin. 

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