Resenha: Um negócio fracassado e outros contos de humor – Anton Tchékhov

0

Sendo considerado por muitos como um dos maiores contistas da literatura mundial, Anton Tchékhov surpreende por sua objetividade e profusão de ideias. Após ler O Monge Negro, tive mais do que certeza de que precisava ir atrás de outros contos dele; foi assim que cheguei a Um negócio fracassado e outros contos de humor, publicado pela editora L&PM Pocket.

Este livro contém trinta e oito contos escritos por Tchékhov ainda jovem, dos vinte e dois aos vinte e sete anos (1882-1887). As histórias são pautadas em situações do cotidiano, preparando sempre o leitor para a uma ocasião cômica, mas que, obviamente, não poderia sair de outro lugar a não ser de uma tragédia. Em cena, entra a crítica à sociedade aristocrata russa do XIX, cheia de modismos copiados dos franceses e convenções sociais ótimas para a criação de histórias de humor. Ao ler Tchékhov, não se pode esperar por a situação da piada, mas sim gozar do constante deboche em que as decorrências vão sendo forjadas. A forma como o autor vai descrevendo as coisas que acontecem, lembram-me muito mais crônicas do que contos, mas quem escreve tem o poder de dizer o que seu texto é ou representa.

Antes de citar meus contos favoritos, vou chamar a atenção para dois pontos que aparecem constantemente nas histórias tchekhovianas: 1) A propina, que diante da exposição do sistema social, extremamente burocrático, torna-se uma espécie de energético da ascensão no plano estrutural e social da Rússia; 2) A caracterização das personagens femininas, sempre uma dicotomia entre o lado positivo, amantes da arte em geral, delicadas, lindas, em detrimento ao lado negativo, esquizofrênicas, exigentes, superprotetoras; este último fato, aparece também na obra de pelo menos outros escritor russo, Liev Tolstói.

Meus contos preferidos são: Numa sessão de hipnotismo, em que o leitor se coloca no lugar do personagem principal, mas depois se esquiva desta postura diante do final do conto; O fósforo sueco, uma das poucas histórias policiais do livro, mesmo que eu não seja muito leitor deste gênero, é um ótimo conto, principalmente pelo desfecho; e O sortudo, no qual se fica muito surpreendido com a reviravolta do final da história.

Para encerrar, afirmo que a leitura deste livro faz com que qualquer um aprenda como realmente escrever uma história; além disso, deixo um trecho do último conto citado:

“O homem é o próprio criador de sua felicidade. Se você quiser, você será feliz, mas você não quer. Você teimosamente abre mão de sua felicidade”.

Não há posts para exibir