Semana dos livros banidos propôs, de forma bem-humorada, uma reflexão sobre liberdade na literatura. Pilhas de livros sendo queimados é algo que pode acontecer a qualquer momento em pleno século 21
Você conhece a sigla BBW? Trata-se da expressão Banned Book Week, uma semana dedicada a encontrar livros que em algum momento foram banidos, censurados ou proibidos em algum lugar do mundo. Neste ano, a semana aconteceu do final de setembro a início de outubro, mas a proposta ainda vale, porque a data costuma ser móvel e é realizada a cada ano entre esses dois meses.
Imagine que, em pleno 2015, não fosse possível ler a saga Harry Potter, apenas pelo fato de o personagem ter características que possam sugerir atitudes subversivas ou associação com o mal. Dá para imaginar fogueiras com pilhas de exemplares da trama do bruxinho? Sim? Não? Teve. E várias. Por incitação à bruxaria.
De Hamlet, de William Shakespeare, passando por Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas, até Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, as listas e os motivos para a censura são enormes e inusitados. Evidentemente, as obras que de alguma forma convidam a reflexão sobre a liberdade foram, em diversos momentos da história, censuradas ou banidas de países cujo regime político voltou-se para o ditatorial ou totalitário.
Mas, mesmo em locais considerados mais democráticos e liberais, dezenas de obras costumam até hoje serem contestadas por conterem palavreado considerado chulo ou enredo e personagens provocativos e eróticos. O mais recente caso foi o best-seller 50 tons de cinza, de E.L. James, que sofreu ataques em diversos estados americanos e chegou a ser banido das prateleiras.
Porém, há casos mais controversos. Mesmo na aparente inocência de As aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain, há pontos de contestação. É um dos livros que recebeu grande número de ressalvas por meio da American Library Association (Associação das Bibliotecas Americanas) por conter palavras de cunho racista. A obra está entre os 100 livros mais contestados e figuram em uma lista da instituição de bibliotecários, junto com o Apanhador no campo de centeio, de J.D. Salinger. Os autores com o maior número de menções nesta lista é Stephen King, com os livros Cujo, Carrie e A zona morta, além de Judy Blume, com O primeiro amor, que aborda a sexualidade na adolescência, e os títulos Blubber, Deenie, Are you there, God? It’s me, Margareth e Tiger Eyes.
Parece que estamos falando de algo típico do turbulento período entre as duas Guerras Mundiais ou lá de trás, quando inquisidores saiam à caça de livros que incitavam o pecado ou culto “ao coisa ruim”, mas a lista contém as ressalvas recebidas a partir de 1990 até hoje, ora porque a linguagem foi considerada inadequada ou em desacordo com a faixa etária, ora porque a capa teve algum elemento de choque e, ainda, ilustrações consideradas nocivas aos bons costumes.
Nas livrarias ao redor do mundo, a BBW teve livros com etiquetas de censura para sinalizar que um dia determinadas obras foram banidas e convidar os leitores a descobrir o porquê. O Tumblr Jubilant Antics celebrou o período de forma bem-humorada com ilustrações ao estilo “mugshots”, fotos de identificação de presos nos Estados Unidos. As imagens convidam a refletir se os personagens Harry Potter, Hester Prynne (A letra escarlate, de Nathaniel Hawthorne) ou Holden Caulfield, de Apanhador no campo de centeio, podem ser considerados “fora da lei”.