O que Rimbaud e Goethe têm em comum? O legado literário de valor incalculável para a Literatura. Fora isso, os dois eram muito diferentes.
Arthur Rimbaud e Johann Wolfgang von Goethe estão entre os maiores poetas da história. De certo modo, pode-se dizer que um contradiz o outro. Quem acredita que os artistas nascem prontos, predestinados (quiçá por uma força divina, sei lá), cita Rimbaud, que personifica a figura romântica do gênio. Aqueles que creem que a excelência de uma atividade artística se forja por décadas de trabalho duro, sendo fruto da maturação de um talento excepcional, fica com Goethe.
Uma noite, sentei a Beleza nos meus joelhos. – E achei-a amarga – E injuriei-a. Eis um dos versos de Uma temporada no inferno, a obra-prima de Rimbaud. Tido como o maior poeta rebelde de todos os tempos, ele precisou de apenas quatro anos (dos 15 aos 19 anos) para reinventar a poesia francesa, assombrando os círculos artísticos da Paris do séc 19, para logo depois renegar tudo e passar a uma vida errante como comerciante de marfim, armas e especiarias na África Oriental.
Goethe levou 60 dos 83 anos de sua vida para concluir a sua obra máxima: Fausto. Baseado no mito homônimo, o primeiro esboço foi escrito em 1772, quando Goethe tinha apenas 23 anos. Mas a primeira versão da obra somente foi publicada em 1808 e a definitiva em 1832, pouco depois da morte do maior escritor da literatura alemã, que completa 182 anos neste 22 de março. Em suas memórias, Poesia e verdade, Goethe disse que Fausto é o suma sumaruim de sua vida.
Rimbaud e Goethe sempre me fascinaram. Rimbaud por eu não ser capaz de saber a origem de sua genialidade. Mas será que isso realmente importa? Seus poemas são os primeiros e os últimos ao mesmo tempo. Goethe pela grandeza de não desistir de um projeto. Comovente. Creio que eles nos servem de inspiração. Quer dizer, se pensarmos bem, é a única alternativa: se não podemos ser Rimbaud, que sejamos Goethe!