A subversão dos conceitos literários na literatura do escritor chileno Roberto Bolaño.
Quem pegar o Houaiss e procurar o que é literatura vai encontrar a seguinte definição: uso estético da linguagem escrita. Contudo será que a literatura, em pleno século vinte e um, é apenas isso? Quem já leu Roberto Bolaño sabe que não.
Mesmo em romances não tão experimentais como O Terceiro Reich, Bolaño insere lá pelas tantas dois rostos desenhados face a face. A utilidade ou função do desenho podem ser discutidas, mas que a presença e o certo espanto que causa ao leitor vê-lo ali em meio à página, sem mais avisos, não pode ser negada.
Em Os Detetives Selvagens a mistura entre textos e imagens toma corpo e é central em várias passagens. O enigmático poema de Cesárea Tinajero em que vemos apenas três linhas que vão tremulando são um dos enigmas do romance – além de ser ponto de discussão dentro da obra. Nada temos além de um título, Sión, e do poema em si.
Já em 2666, Oscar Amalfitano, personagem central da segunda parte do romance, esboça sem notar esquemas, acrescentando nomes conhecidos Heidegger, Bergson, Harold Bloom e Nietzsche lado a lado com ilustres desconhecidos – pelo menos para mim – como Trendelenburg, Lange e Mendelssohn. Que significa tais esquemas? Qual a função deles no texto? Deixo a pergunta, pois não tenho a resposta.
Mas por que nos prendermos somente a Bolaño? A literatura contemporânea está cheia de livros com links do youtube, desenhos que surgem em meio ao texto – sem contar o recente sucesso de vendas Destrua Este Diário, de Keri Smith, no qual o autor manda o leitor subir sobre o livro e dar uma boa esfregada de pés nele, dando-nos uma nova perspectiva (para alguns nem tão nova) da relação leitor-livro.
Creio ter deixado muitos autores de fora – por pura ignorância –, mas acredito ter conseguido atingir meu objetivo quando faço a pergunta: a literatura cabe em palavras?