Como sobrevivi à Flip sem ingressos

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Sábado foi dia de jornalismo na Flip 2014

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Casa Folha no sábado da FLIP 2014 (Foto: Site de Paraty)

No último sábado, dia dominado por debates sobre jornalismo, para quem não havia comprado ingressos para as mesas na tenda dos autores e não queria aguentar o sol forte para acompanhá-las pelo telão, a 12ª edição da Flip apresentou uma alternativa interessante para aqueles que acompanham (ou não) o jornal Folha de São Paulo.
Na Casa Folha, pela manhã, momentos antes de se iniciar a mesa com Ruy Castro, que seria mediada pela jornalista Thais Bilenky, a plateia estava apinhada de senhoras com cara de conteúdo, devidamente maquiadas, cantando músicas interpretadas por Elis Regina, e de gente lendo exemplares do jornal distribuídos gratuitamente.  Cronista e biógrafo, Castro falou sobre as diferenças entre os dois gêneros, ressaltando que ambos devem ser claros e objetivos. O diferencial se daria pelo charme da prosa de cada autor.
Tida como um gênero que muitas vezes é precariamente definido, o articulista afirmou que, o fato da crônica ser escrita no jornal não a torna jornalismo. Um cronista é diferente do colunista. Este emite sua opinião o tempo todo sobre diversos assuntos. A crônica é uma expressão literária aleatória, que deve ser verdadeira mesmo quando mente.
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Thais Bilenky e Ruy Castro na Casa Folha (Foto: Site de Paraty)

Experiente no gênero da biografia, tendo publicado obras sobre Carmen Miranda, Nelson Rodrigues e Garrincha, o autor disse que o biógrafo é um vidro entre o fato e o leitor. Não emite opiniões, apenas informa. A informação é sua única ferramenta, não sendo necessária a inspiração. Seu biografado deve ser uma pessoa com altos e baixos, cercada de personagens igualmente interessantes. Se entre os coadjuvantes houver indivíduos que Ruy não simpatiza, isso faz com que perca o interesse pelo personagem central. Confessou não aceitar fazer biografias por encomenda, pois elas tiram a liberdade do autor. A admiração pelo escolhido não é sinônimo de defesa. Defeitos também serão publicados, não somente qualidades.
Finalizando a programação da Casa Folha na Flip 2014, um dos mais influentes e experientes jornalistas brasileiros foi entrevistado por Sérgio Dávilla, editor-executivo do jornal. Clóvis Rossi falou sobre seus 50 anos como jornalista e as experiências pessoais que a profissão lhe proporcionou: “Fui chefe e jamais voltaria a ser. A graça verdadeira da profissão é estar na rua, sendo testemunha ocular dos acontecimentos.”
O jornalista, que escreve para a Folha quatro textos por semana, falou sobre a escolha dos temas das colunas: muitas e variadas fontes, entre sites e jornais impressos. Questionado sobre o jornalismo atual, disse que seu maior problema é ninguém ter inventado um modo de ganhar dinheiro com notícia na internet. Nunca se sabe o que é verdade ou mentira. Quando perguntado se acreditava que um assassinato havia sido tramado para João Goulart, posicionou-se como inimigo número um de teorias conspiradoras. Esse tipo de situação seria insustentável, já que muitas pessoas estão envolvidas e há sempre alguém que “dá com a língua nos dentes.”
Ao final, citou uma frase de Carl Bernstein, jornalista que, ao lado de Bob Woodward, foi o responsável pela investigação jornalística do caso Watergate: “A reportagem é a melhor versão da verdade que se pode ter.”

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