
Em Febre de enxofre, da editora Penalux, o autor Bruno Ribeiro se revela um verdadeiro demiurgo
FEBRE DE ENXOFRE. Com um título – e uma capa – assim, o leitor com certeza não espera ler um romance água com açúcar ou demasiado conceitual; ele está preparado para algo mais sombrio e excitante até. Ou ao menos pensa estar. Surpreendente, vertiginoso, caleidoscópico, psicodélico, atordoante, frenético: posso apostar que nem esses nem qualquer outro adjetivo do tipo serão suficientes para você poder dizer que está de fato preparado para o que lhe espera nessa obra, que provavelmente deveria ter um aviso especial para asmáticos em algum lugar.
Descrita por alguns como uma releitura de Fausto e do vampirismo, a febril história vai além, adentrando metalinguisticamente questões poéticas profundas de forma bastante onírica. Com uma escrita bem trabalhada e contemporânea, usando recursos como narrador na primeira pessoa (que, aliás, não permanece o mesmo até o final, conferindo uma perspectiva ainda mais movediça) e falas mergulhadas na narrativa, sem qualquer tipo de marcação, Bruno urde uma trama cujos fios parecem tobogãs nos quais se desliza no meio de um furacão.

Yuri Quirino é um poeta premiado que acaba de se despedir da namorada (ele mora na Paraíba e ela está indo ao Rio de Janeiro terminar um mestrado) e está perdido tanto na literatura quanto na vida. No próprio aeroporto onde Luciana pega seu avião rumo às praias cariocas, Yuri conhece um homem estranho – e de certo modo parecido consigo, chamado Manuel di Paula, que começa a lhe fazer uma proposta mais estranha ainda, interrompida pela fuga desconcertada de Quirino. Manuel quer que este escreva sua biografia em Buenos Aires. Após alguma insistência, para dizer o mínimo, o poeta acaba aceitando, e é lá, em ares nada bons, que se (des)enrola a maior parte da macabra teia.
Numa sucessão quase infinita de espelhos de circo, o autor demonstra inopinados talento e criatividade, “brincando” com a autoficção, tão em voga hoje em dia, e abraçando riscos com uma liberdade invejável. Acima de tudo, há evidente paixão nessas páginas labirínticas. Um livro ardente, sem dúvida — um monumento cuja escalada com certeza vale a pena.