Numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, lá onde o galo cantava ao amanhecer, e as ovelhas eram pastoreadas durante o dia, vivia uma família muito pobre. O pai era caseiro numa fazenda. Já a mãe fazia pães e cucas e as vendia nas ruas da cidade. Os filhos, dois, diga-se de passagem, ajudavam seus pais. O menino de nove anos ajudava o pai na lida da fazenda. A menina ajudava a mãe a fazer os pães e as cucas e a carregar as sacolas na hora de sair para vender. Uma vida difícil, de muito trabalho, pouca diversão e muita resignação. Mas, o que não podia ficar mais duro na vida desta família. Acabou por ficar…
Certo dia, foram vender seus pães e cucas, dona Leopoldina e sua filha, Leocácia, que todos chamavam de Léo. Ao atravessarem a ponte que ligava sua casa ao centro comercial da cidade, avistaram um gato preto. O animal era tão preto, mas tão preto, que reluzia à luz do sol. Léo ficou muito assustada, pois era uma sexta treze e já rezava a lenda na cidade que nesse dia tão místico encontrar um gato preto ou passar embaixo de escada e ponte trariam mal agouro por pelo menos sete anos. A mãe, que andava a passos largos, dissera à menina que se tratava de uma grande bobagem tudo aquilo e que o pobre gatinho nada mais queria do que seguir seu destino. Naquele dia, mãe e filha não venderam absolutamente nada. A menina já culpava o gato pela má sorte. Enquanto isso, na fazenda, o pai Leonardo e o filho Leopoldo trabalhavam duro na colheita. Leopoldo avistou no meio da plantação um corvo, preto e reluzente. O menino ficou perplexo, pois nunca havia visto um bichinho tão feio. Naquele dia o pai se sentiu mal durante a colheita e veio a falecer três dias depois, vitima de um mal súbito. Mas, o menino estava certo que o que matou o pai foi o olhar rude do corvo preto. Dias depois, irmãos, ainda em luto comentaram sobre sua sexta-feira treze. A menina falou do gato preto e o jovem falou do corvo. Nesse exato momento, a mãe começou a sentir fortes dores de cabeça. Os meninos, desesperados, correram a pedir socorro, mas já era tarde. A mãe morreu vítima de um derrame. Mas, para aquelas crianças, agora desamparadas, a mãe havia morrido por lembrarem-se dos personagens da sexta treze.
Anos se passaram. Léo e Leopoldo, agora adolescentes, seguiram a profissão dos pais. Ele trabalhava na fazenda, ela herdou da mãe o dom de fazer pães e cucas. Em um dia de verão, Leopoldo foi atacado por um enxame de abelhas enquanto podava as folhagens. Todo picado, acabou morrendo dias depois por ser ele alérgico. Dias depois, pensando ainda na morte tão repentina do irmão, Léo se deu conta que Leopoldo havia falecido no mesmo dia que seu pai. Numa sexta treze. Sozinha, ela tentava reconstruir o pouco da vida que sobrara. Pessoas da cidade começavam a comentar que Léo estava perdendo a razão, pois a encontraram falando sozinha, toda suja e esfarrapada, aparentando não querer mais nada dessa vida.
Numa noite de lua cheia, Léo avistou a família no outro lado do rio. Eles pareciam estar felizes. A menina foi ao encontro deles, rio adentro e nunca mais foi vista! Reza uma lenda na cidade que nesse rio não há vida marinha e que quem se sujeita a banhar-se nele nunca mais é visto.