Simplesmente Austen: a beleza no cotidiano

310px-Jane_Austen_coloured_versionSim, você adivinhou. Vou falar sobre Jane Austen – essa incrível figura da literatura inglesa do século XIX. Não somente a admiro pelo seu trabalho como também pela grande mulher que ela foi. E antes que você venha com aquela história de “literatura de mulherzinha”, deixe-me lhe apresentar a grandeza que há por trás destas histórias vividas em cenários rurais da Inglaterra.

Emma,é considerada pela crítica, a obra mais complexa de Jane, apesar de sua fama recair sobre Orgulho e Preconceito. “Emma Woodhouse, bonita, esperta e rica”: é assim que se inicia essa obra de cinquenta e cinco capítulos. Para o leitor despreparado é uma leitura um tanto cansativa, pois está repleta de detalhes, detalhes e mais detalhes que, convenhamos, não acrescentam nada de muito emocionante à trama.

Numa certa parte do livro, a senhora Bates, vizinha da heroína, diz sobre uma carta que recebeu: “Oh, aqui está. Eu tinha certeza de que não podia ter sumido; mas pus minha caixa de costuras em cima dela, veja só, e não me dei conta, e assim ela ficou escondidinha, mas eu estive com ela nas mãos faz tão pouco tempo que tinha quase certeza de que devia estar em cima da mesa. […]” Como podemos ver esse trecho não nos traz uma informação valiosa – aquela senhora apenas “quase perdeu” a carta, ponto final.

Minha avó é, de certo modo, parecida com a Senhora Bates. Quando ela volta do mercado faz questão de falar a respeito de todas as frutas e verduras, dos artigos que estavam em promoção, de quem ela encontrou nos corredores e se a moça do caixa era ruiva ou morena. Se dependesse dela o mercado não precisaria mais gastar com marketing – minha avó simplesmente dá um show nessa área!



Precisamos admitir: estamos sempre tão ocupados! Sempre nos preocupando com as causas do mundo… Mas de que adianta toda essa imagem de “bom cidadão” se negligenciarmos as causas do nosso mundo? É isso o que Austen quer que vejamos. Por que devemos dar importância para uma senhora Bates que nos conta nos mínimos detalhes o percurso que a tal carta fez? Porque todas essas informações fazem parte do que ela é e, portanto, são importantes para ela.

Precisamos reparar nas coisas que geralmente não damos tanta atenção devido à correria do dia a dia. O biscoito que a esposa preparou no café da manhã. O bom dia daquele cara que trabalha no outro setor da empresa. A (milésima) ligação da sua mãe perguntando como você está. O abraço apertado do filho quando você chega em casa. Coisas pequenas, mas que fazem de nós o que realmente somos, afinal, ninguém ganha na mega sena todo dia, né? Precisamos fazer grandes todos os pequenos acontecimentos… Enxergar a beleza que há no cotidiano, simplesmente como Jane o fazia.



Sté Spengler
Graduanda em Letras (Português e Inglês), é educadora e metida a escritora. Apaixonada pela vida e pela palavra escrita, acredita, assim como Clarice Lispector, que escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada. - Críticas e sugestões: @stespengler
Sté Spengler
Graduanda em Letras (Português e Inglês), é educadora e metida a escritora. Apaixonada pela vida e pela palavra escrita, acredita, assim como Clarice Lispector, que escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada. - Críticas e sugestões: @stespengler
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