Embora Raduan Nassar tenha abandonado a carreira de escritor, suas obras literárias jamais serão esquecidas. Prova disto é que o autor acaba de ser anunciado como semifinalista do prêmio Man Booker International
Há mais de quinze anos o escritor brasileiro Raduan Nassar anunciou publicamente que tinha desistido da carreira de escritor. Permaneceu silencioso e recluso por muitos anos: poucas aparições, quase nenhuma entrevista, nenhuma nova publicação. Durante um período, chegou a largar a capital paulista e foi morar em sua fazenda, preferindo galinhas aos livros.
Ao longo de sua curta carreira como escritor, Raduan publicou apenas três livros: o romance Lavoura Arcaica (1975), a novela Um copo de cólera (1978) e a coletânea de contos Menina a caminho (1997), a qual reúne textos escritos entre os anos 1960 e 1970, publicados de modo esparso.
Embora o número de publicações seja pequeno, tais livros foram mais do que suficientes para situar o escritor entre os maiores escritores brasileiros, ao lado de Machado de Assis, Guimarães Rosa e Clarice Lispector.
As obras desse escritor são marcadas pela qualidade esplêndida de sua linguagem, pela originalidade dos temas em uma época em que boa parte dos escritores do país pretendiam denunciar a violência brutal da política nacional e pela dimensão humana profunda e complexa representada. Suas narrativas são repletas de tensão, intensidade, força de linguagem, significação humana e até mesmo crítica social.
O que Raduan Nassar parecia não prever é que mesmo tendo abandonado a literatura, ela nunca o abandonaria, porque um bom escritor jamais perderá esta condição para os seus leitores, mesmo que deixe de escrever, dar entrevistas ou sinal de vida. A literatura jamais abandonará este grande escritor.
Uma prova de que a literatura de Raduan Nassar jamais será esquecida é o fato de que o escritor é semifinalista do prêmio Man Booker International. A notícia foi anunciada recentemente, nesta quarta-feira (09/03), pela Fundação Booker Prize. Ele é um dos 13 escritores escolhidos para o “longlist”, a fase anterior à final do prêmio literário.
Para chegar ao número de 13 escritores, foram avaliadas 155 obras de escritores do mundo todo. E pela primeira vez a Fundação Booker Prize divulgou a lista de semifinalistas, pois antes os nomes revelados eram apenas dos autores na fase final deste prêmio, que é um dos mais importantes do mundo.
O curioso nisso tudo é que a inclusão do escritor brasileiro na semifinal aconteceu apenas dois meses depois de suas obras chegarem ao público de língua inglesa (em 7 de janeiro, a Penguin, do Reino Unido, lançou as traduções de Lavoura Arcaica, por Karen Sotelino, e Um copo de Cólera). De acordo com Luiz Schwarcz, diretor do grupo Companhia das Letras, que publicou os livros de Raduan Nassar no Brasil, o escritor tentou boicotar de todas as formas as edições em inglês de suas obras, reclamava tanto da capa quanto do contrato.
Os seis finalistas serão anunciados no dia 14 de abril. Já escritor e tradutor vencedores serão anunciados no dia 16 de maio. Resta-nos, agora, torcer por Raduan Nassar!