‘Solidão’, de Márwio Câmara, faz excelente companhia aos leitores

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Linha a linha, escritor carioca desnuda a intensidade de sua literatura

Márwio Câmara, autor de Solidão e outras companhias.

Solidão e outras companhias é um livro que faz jus ao próprio título. O que o leitor vai encontrar, distribuídos entre as 91 páginas da primeira obra do carioca Márwio Câmara, publicada pela Editora Oito e Meio, é um emaranhado de “solidão” cercado por boa música, alta literatura e grandes referências cinematográficas, que fazem as vezes de “outras companhias”.

Dividido em três partes (Nós, Vós e Sós), o livro vai ganhando densidade à medida em que Câmara brinca com as formas (como o diálogo em que os vocativos se alternam do início para o fim das falas) e também homenageia suas referências literárias (tem conto que começa com as reticências de “Clarice” e ganha a vertiginosa e cortante velocidade das epifanias de “Lispector”).  Tudo isso permeado por citações a músicas clássicas, jazz da melhor qualidade e até ao rock inconfundível de Janis Joplin. A trilha sonora potencializa a prosa do autor.

Os contos, sempre muito líricos, ousam e provocam o leitor, que, num primeiro momento, pode ficar confuso pelas idas e vindas, mas, à medida  que avança linha a linha texto adentro, vai percebendo a intensidade da literatura do estreante carioca. O efeito cai como uma bomba de sentidos e de sensações. Coisa rara, mas gratificante! Por exemplo, o conto “O Ponto” não precisa mais do que uma página para desnudar toda a sua força. Nesse curto texto, Câmara mostra o total domínio da linguagem ao brincar com a repetição de palavras, como numa ciranda em que tira o leitor para uma dança arrebatadora. “Do Silêncio ao Grito”, outro texto de uma página só, é igualmente profundo e catártico. Como um velocista, o escritor mostra que a concisão só potencializa a densidade desses contos.

Solidão e outras companhias (Editora Oito e Meio, 2017)

Nas versões mais longas, Câmara apresenta todas as suas artimanhas para fisgar o leitor. Em “A Chuva que me Lembra Dela”, versa sobre um solitário coração abandonado que se vê duplicado em outro momento, retratando justamente a situação em que foi ferido. Já em “Luz nas Pupilas”, a palavra “despertar” permeia o texto até que o herói desperta num derradeiro momento: daí, quem desperta é o leitor! Em “Solidão”, conto que fecha o livro, conhecemos a carismática travesti Madame Bovary, frequentadora da Lapa. Impossível não simpatizar por esta figura andrógena, carregada de significados! Só lendo, só lendo…

Em seu livro de estreia, Câmara alterna textos curtos e longos. Em todos eles mantém os efeitos desconcertantes de uma prosa bem trabalhada. O lirismo, que permeia todos os 13 contos, acaba sendo uma das tantas “outras companhias” ao leitor em sua inerente “solidão”.

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