Surpresas do gênero policial em Suicidas, de Raphael Montes

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Suicidas é um livro com final anunciado no título, mas que consegue surpreender na trama, nos personagens e no próprio desfecho da história. Uma narrativa de mistérios embalada pelo toque do romance policial.

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“Um porão, nove jovens e uma Magnum 608. O que poderia ter levado universitários da elite carioca –aparentemente sem problemas – a participar de uma roleta-russa?”

Essa é a premissa de Suicidas, romance de estreia de Raphael Montes.

A história se inicia através de uma reunião realizada pela delegada Diana Guimarães, com as mães de nove jovens que se suicidaram em um sítio no interior do Rio de Janeiro. A partir daí, o caso, conhecido como Cyrille’s House, em referencia ao nome do sítio onde ocorreu a tragédia, é contado com auxilio das anotações do protagonista da trama, Alessandro Parentoni. Dessa forma, Raphael Montes cria dois eixos narrativos:  a descrição de registros de áudio da reunião organizada pela delegada, além das anotações de Alessandro.

A reunião promovida por Diana, um ano após o suicídio, é motivada pela descoberta de uma nova pista que pode ajudar a desvendar questões ainda não elucidadas pelo inquérito da polícia. A pista em questão é o livro que Alessandro produziu enquanto ocorria o suicídio, e que, ao longo da história, vai sendo exposto em complemento aos depoimentos das mães e às suas anotações pessoais.

Entre as anotações pessoais de Alessandro, o leitor é levado a conhecer os suicidas da história,  com destaque para Zak, um dos personagens principais. Amigos desde a infância, Zak e Alessandro passam por uma série de situações durante a narrativa. O contraste entre os dois é sempre evidente. Enquanto Ale é um “nerd”, aspirante a escritor, que desenvolve um amor não correspondido por uma das suicidas, Zak é um playboy conquistador, que consegue todas as mulheres que busca.

A vida dos amigos cariocas corre bem, até que os pais de Zak morrem em um acidente de carro. Então, os dias de farra, mulheres e irresponsabilidade do playboy dá lugar à amargura e tristeza. E logo no momento em que Alessandro decide ampará-lo, descobre mais segredos do amigo, e a história se desenrola com ainda mais surpresas.

suicidas1Suicidas tem a cadência de um romance policial de mistério, onde o compasso é estipulado pelos “porquês” que permeiam a inexplicável morte dos nove jovens. Raphael Montes utiliza intervenções cirúrgicas para desenvolver os mistérios, apresentando pontos de virada que culminam para uma narrativa de suspense crescente.

Entre os personagens coadjuvantes da trama, destaca-se Waléria, uma moça obesa com quem Zak acaba se envolvendo. Waléria é uma criação quase palpável de Raphael Montes. Ela consegue despertar ódio, compaixão e até reflexão sobre o leitor, tendo um papel secundário.

Mas o sucesso de Suicidas está em seu final, que, como já destacado, apesar de parecer óbvio, poderá surpreender até os leitores mais treinados nas reviravoltas dos romances policiais.

“Hoje é a primeira vez que pisaremos em Cyrille’s House sem a presença dos nossos pais. Também não poderia ser diferente. Não estamos indo para brincar no balanço ou nadar na piscina enquanto nossas mães conversam sobra a última moda em Paris. Desta vez, iremos por algo muito mais sério. Nós decidimos nos matar”.

Suicidas é publicado pela editora Saraiva/Benvirá.

Fonte: CARVALHO, Raphael Montes. Suicidas. São Paulo, 2012. 488p.

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