“O que é “real”? Como você define o que é “real”? Se está falando do que consegue sentir, do que pode cheirar, provar, ver, então “real” são simplesmente sinais elétricos interpretados pelo cérebro.”
Este pequeno recorte da fala de Morpheus, do filme Matrix (1999), coloca em questão quais critérios usamos para definir o que é realidade. Esta é uma pergunta que tem sido feita ao longo da História e com certeza, em algum momento da vida, você também deve ter se perguntado. Caso não tenha, em que realidade você vive?
Os avanços tecnológicos e científicos têm tornado possível o que antes apenas a imaginação era capaz de tocar. A literatura como um todo, mas principalmente o gênero ficção científica, tem sido um dos campos desbravadores, muitas vezes antecipando descobertas de modo premonitório.
Recentemente um importante diretor da NASA afirmou que a humanidade pode estar vivendo dentro de um programa de simulação, tal como proposto pela trilogia Matrix. Seria verdade? Absurdo? Ainda não temos condições de ter certeza. Até lá podemos revisitar alguns exemplos antecipados pela literatura e que estão tornando-se realidade:
Minority Report
O conto de Philip K. Dick, que originou o filme de Steven Spielberg de 2002, narra uma divisão pré crime no ano de 2054 que conseguiu acabar com os assassinatos graças aos precogs, humanos com habilidades paranormais que podiam visualizar eventos futuros.
Em 1966 o jovem Charles Whitman subiu em uma torre, matou treze pessoas, feriu trinta e três e suicidou-se em seguida. Durante a autopsia descobriram no cérebro do assassino um tumor (glioblastoma) que comprimia a área da amígdala, área cognitiva responsável pela agressividade. O neurocientista David Eagleman em 2011 argumentou que esse caso é um exemplo de que muitos atos criminosos estão relacionados com lesões cerebrais. Eagleman argumenta que nas próximas décadas será possível encontrar marcadores biológicos nas ações criminosas. Em decorrência, o sistema judiciário terá de ser revisto, uma vez que atos criminosos estarão ligados a distúrbios cerebrais e poderão ser antevistos através do mapeamento cognitivo realizado nas crianças logo após o nascimento.
Uma odisseia no espaço
O clássico da ficção científica de Arthur C. Clarke e Stanley Kubrick está recheado de previsões que hoje são realidade, desde as comuns até as mais bizarras. Entre as comuns estão a vídeo-chamada, o tablet e a hibernação artificial. No livro, a hibernação artificial é utilizada em longas viagens para evitar o desgaste biológico dos astronautas e de recursos da nave, como água, energia e alimentos. Podemos ver a mesma tecnologia em O planeta dos macacos e mais recentemente no filme Interestelar de Christopher Nolan.
Em 2015 um casal chinês decidiu congelar o corpo da filha, recém falecida com uma doença incurável, para “ressuscitá-la” quando o tratamento for encontrado. O corpo da menina será mantido “hibernado” até o momento em que for possível achar a cura para doença – e um método de trazer os mortos de volta. Mary Shelley, autora de Frankenstein teria uma longa conversa com esse casal…
O cemitério
Este clássico de Stephen King já ganhou versão para o cinema e conta a história de um jovem médico que se muda com a família para uma casa em uma pequena cidade norte-americana. A bela e aconchegante residência revela sua real natureza – está localizada acima de um antigo e misterioso cemitério, que segundo as lendas locais é capaz de dar vida aos que lá são enterrados.
Recentemente saiu na mídia estadunidense o caso do gato Bart que voltou a vida após cinco dias enterrado. O pobre animal foi vítima de um atropelamento e por estar muito ferido acabou sendo enterrado ainda vivo. Depois de cinco dias o gato milagroso como agora é chamado estava de volta ao quintal de sua casa.
***
Estes são apenas alguns dos incontáveis exemplos da relação entre a literatura e a realidade do cotidiano. Com a velocidade das transformações sociais e tecnológicas em que vivemos, muitas vezes não temos tempo para refletir no impacto que tais inovações trarão a vida humana. Algo muitas vezes perigoso e não é de hoje que os autores estão usando das palavras para emitir o alerta.
Tudo não passa de loucura? Insensatez? Talvez, mas o ponto a ser refletivo são as possibilidades antecipadas pela literatura que hoje o homem tem ao alcance das mãos. Chegará o dia em que criminosos terão os cérebros mapeados para a justiça emitir um veredicto antes do crime acontecer? Gatos voltarão dos mortos para assustar seus entes queridos? Conseguiremos evitar nossa morte hibernando aeternum?
Perguntas que poderão ser respondidas em um futuro não tão distante. Até lá o que teremos a nossa disposição será nossa capacidade de reflexão e as obras deixadas por grandes escritores profetas (?).
Caso você conheça outros exemplos antecipados pela literatura, deixe nos comentários. Encerro com uma fala de Aldous Huxley: “O mal da ficção é que ela faz sentido demais. A realidade nunca faz sentido” .