Teoria da Literatura: o que é e para que serve?

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Teoria da Literatura: o que é e para que serve?

Nesse texto, tentaremos analisar os prós e contras que a Teoria Literária pode trazer ao leitor de qualquer nível

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Arte de rua do artista francês Levalet

De início, já deixo a resposta para a segunda questão: para quase nada e para muita coisa. É contraditório, reconheço, mas o problema em si não está na Teoria, mas em quem a utiliza e quais os fins que essas pessoas querem dar a ela. Sejamos mais claros.

Primeiro é preciso definir o que é Teoria da Literatura. Para tanto, podemos recorrer a muitas e antagônicas ideias do que é a Teoria; mas, para sermos pontuais, o que podemos dizer é: Teoria da Literatura é o estudo e a sistematização da Literatura como área do conhecimento, bem como os modos de análise deste campo. Muita coisa foi omitida nessa definição, pois dentro do próprio campo, ainda hoje, é visível um grande racha sobre o que é a tal da Teoria e qual é a sua utilidade. O fato é que ela como campo do saber é muito recente dentro da Literatura. Antes, ao se falar sobre o assunto, não se dava tanta atenção apenas à Literatura e sim ao conjunto das Artes como um todo. A isso se dava, ou ainda se dá o nome de Estética. Até esse ponto nomes como Platão e Hegel – só para ficarmos nos mais conhecidos – discutiam a validade da Literatura para a vida do ser humano, seu valor ao meio social, implicações de determinadas técnicas, o que era belo, valor da arte etc. etc. etc. Poucos foram os casos em que a Literatura teve um tratamento priorizado frente às outras artes; no entanto, eles existiram. Aristóteles e sua Poética dissecaram as tragédias gregas, mostrando como algumas chegavam à mimeses e quais caminhos seguiram para tanto. Assim seguimos até o início do século XX quando se construiu a Teoria Literária como a conhecemos hoje.

3558Aqui temos um grande aumento das perspectivas especulativas sobre o assunto, dado até então somente à Filosofia. Dos Estudos Culturais à Desconstrução, passando pela Escola Pragmática americana e pelo Formalismo Russo, a arte de escrever começou a ser analisada por todos meio possíveis e velhas discussões sobre o valor e a utilidade do campo foram reacesos e intensificados. Dependendo do ponto de vista teórico adotado, podemos ver a Literatura como meio para algo ou como fim, como sinal de mudança ou registro de uma época, como sintoma da evolução – ou não – da psique humana ou um traço de que ela se mantém a mesma durante o correr dos milênios. O importante para nós, neste momento, não dizer quais ou tais estão certas ou erradas, apenas demonstrar que cada parte de um ponto de vista teórico diferente, sendo que cada vez mais o ponto de partida não é a própria Literatura e sim a Psicanálise, a Sociologia e a Linguística – para darmos nomes aos principais.

Chegando aqui, tendo que temos uma base do que possa ser a tal Teoria, podemos partir para questão essencial deste texto e do campo em si: para que ela serve?

Vai depender de quem quiser saber a resposta.

Para o leitor comum, que forma o maior dos grupos que possa se interessar pelo assunto, ela não é de grande utilidade. Não é subestimar ninguém, longe disso; ela, no entanto, nada acrescenta àqueles que leem pelo prazer do texto, para citar Roland Barthes. O leitor comum é provavelmente o mais feliz de todos, pois para ele questões como o sublime e o belo, o bem e o mal, qual fim deve se dar à Literatura não são de grande interesse ao ler uma poesia, romance, peça de teatro etc. O leitor comum apenas gosta ou não de determinado poema segundo valores subjetivos de gosto. Esses não pensam nas palavras de Karl Marx sobre Balzac ao ler O Pai Goriot ou A Mulher de Trinta Anos, eles apenas leem e gostam ou desgostam. O gosto comum de quem é apenas leitor sobrevive, como sempre foi e provavelmente sempre será, sem saber os apontamentos de Boileaux-Drespréaux ou de Kant. Gosto literário para a maioria pode passar por várias coisas, menos pela crítica.

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Para o escritor pode ser útil, entretanto não se faz necessária. Como método de análise de obras, a Teoria pode dar aos autores, principalmente aos iniciantes, um modelo a seguir – quer como estrutura de narrativa ou de versificação, quer como modelo ideológico. Para alguns, também pode ensinar os mecanismos de análise necessários para entender o funcionamento dela. Porém, e este é o ponto principal aqui, ela se mostra cada vez menos necessária aos autores, mesmo que muitos deles também sejam teóricos do assunto. É provável que Garcia Márquez tivesse as palavras de Sartre em O que é a Literatura? em mente ao escrever quase toda sua obra; da mesma forma, é provável que esse fato estivesse mais no seu inconsciente do que em outro lugar quando Gabo teve a ideia inicial de Cem Anos de Solidão. Assim como muitos leitores passaram ilesos pelo mundo da Literatura sem nunca pensar na Teoria, muitos autores, a partir do último principalmente, têm dado cada vez menos atenção ao que dizem sobre ela e mais ao que leem como simples leitores, primeiro passo para qualquer escritor.

Para a crítica ela é útil, senão o ponto de partida para compreendê-la. Àqueles que pretendem tê-la como objeto de estudo, a Teoria da Literatura é o ponto inicial para entender seu funcionamento, o que cada corrente de pensamento está fazendo, quais são os acertos e erros sobre ela e assim por diante. Ter como objeto a Literatura implica conhecer todas as formas que foram empregadas para analisá-la, mesmo que seja para negar todas e criar um novo método. Ela é o ponto que diferencia a crítica do leitor comum ao falar sobre as obras dos leitores acadêmicos – mas não deve, de forma alguma, impor sua visão sobre o primeiro. A utilidade última da coisa, para não entrarmos em discussões ontológicas ou metafísicas, é saber como funciona esse campo que, apesar dos milênios e das suas modificações como um todos, continua a cativar milhões e bilhões de pessoas ao redor do mundo ao ponto de alguns quererem produzir algo do tipo.

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E você, o que acha sobre o assunto?

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