O terceiro romance de Antônio Xerxenesky é sobre aquilo que não conhecemos. Ou que fingimos desconhecer e mesmo assim sabemos que existe, entendem? Como diz o ditado de quem não crê nas bruxas, mas, vocês sabem. As perguntas trata do mundo invisível que nos rodeia, o qual, diante da tecnologia, a busca incessante pelo dinheiro – pagar o aluguel, como a personagem principal reitera mais de uma vez no decorrer das páginas –, consumos sem necessidade e do pensamento científico, fica relegado, num canto qualquer, vez por outra lembrado como um vaso feio que ganhamos de um parente e que, por isso, vemos com o canto dos olhos sem dar especial valor – está lá, só que preferimos não ver.
E que lugar melhor para ver a discrepância entre os mundos físico e espiritual que não a cidade de São Paulo? Na metrópole que nunca dorme (mesmo parecendo uma redundância, já que, se é metrópole, seres insones não são raça excepcional), Alina, que nas duas primeiras partes da história é dissecada por um narrador em terceira pessoa e na última assume as rédeas dos acontecimentos, descrevendo e cometendo ações (mas que nem sabe por que comete – “o que estou fazendo aqui?” adquire tom de mantra azeitando seus pensamentos) à la Ulysses, perpassa um dia de sua existência – dia esse que, supomos à medida que a leitura avança, poderá alterar sua vida dali adiante – num território em que os contrastes são evidentes, opondo a matéria e o etéreo, mas, curiosamente, pondo-os lado a lado. É o caso do trecho em que a personagem principal recebe um arquivo por e-mail, o qual, uma vez aberto por um programa de computador específico, mostra coisa(s) que não pertence(m) ao plano terrestre que o divulgou. Para se chegar ao místico usa-se o high-tech, nada pode ser mais cosmopolita.
Alina, assim, assume o papel de detetive amadora para verificar mais de perto o envolvimento de uma seita religiosa em desaparecimentos. Estudiosa especializada em religião comparada, acaba sendo chamada a ser testemunha de um ritual após mandar mensagem para o endereço eletrônico encontrado no vídeo subliminar. Descortina-se assim uma espécie de trailer psicológico, com pitadas baseadas, entre outras artes, na película Suspiria, de Dario Argento.
O terror no terceiro romance de Antônio Xerxenesky
Abrindo caminho por um gênero de pouca tradição na literatura brasileira, o terror, este terceiro romance de Antônio Xerxenesky passa por questões bastante palpáveis a jovens adultos urbanos da geração dos anos 1980-1990 (dinheiro, sexo experimental & tecnologia), indo também mais longe: qual o papel da morte numa vida que insiste em se tornar cada vez mais materialista, sem sal e imediatista? Mais: O místico tem relevância nisso tudo? O impacto da morte de alguém próximo causa traumas que nem a religião pode confortar? Talvez sejam só mais perguntas a serem respondidas. Respostas que ficam para cada leitor formular ao encerrar o livro.