Uma tradução vai muito além de transferir o sentido de uma palavra de um texto a outro
Escrever é uma tarefa árdua e complexa, sobretudo quando se trata do gênero poético, pois diferentemente dos demais, é regido por regras específicas, tais como: rimas, métricas, plano de expressão e de conteúdo, figuras de linguagem e afins – não que aqueles não o sejam, mas diferenciam-se de acordo com o gênero a que pertencem – e segui-las ou não fica a critério de cada autor.
Apesar das particularidades de cada gênero que a eles são inerentes e de suas normatizações, não quer dizer que sejam imposições e as únicas válidas, mas é indispensável que sirvam de alicerce para a produção de obras literárias, independentemente do fim a que se destinam, do veículo de divulgação e do meio em que foram produzidas.
Abordagens reflexivas a respeito da temática são muitas, tanto quantitativamente quanto qualitativamente e em extensão. Portanto, o que se abordará aqui é um ponto de vista acerca não só de uma obra clássica da Literatura Norte-Americana, como também de outra profissão possível – a de tradutor – para o profissional de Letras. Antes, porém, é importante ressaltar que a mesma dificuldade, se não tantas vezes maior, apresenta-se na atuação do Crítico Literário e do Tradutor, por motivos diversos.
Pois bem, o poema a ser analisado intitula-se The Raven, de Edgar Allan Poe.
Como boa parte da Literatura Norte-Americana foi traduzida, sobretudo, para o Português, esta não poderia deixar de entrar para o acervo, e assim se fez por meio de dois dos maiores escritores: um brasileiro e o outro português, quais sejam, Joaquim Maria Machado de Assis e Fernando Pessoa, respectivamente.
Aqui se chega ao ponto crucial: a diferença e a qualidade das traduções. Uns – tanto críticos, quanto leitores – preferem a Machadiana, outros a Pessoana. Para analisá-las, é preciso levantar algumas questões, as quais certamente os influenciaram. São elas: a nacionalidade, o conhecimento do inglês, o critério de tradução, os dicionários utilizados, a época em que a tradução se realizou, entre outras.
Ambas são bem diferentes, principalmente no vocabulário e no sentido imagético que criamos durante a leitura do poema, mas não significa que uma seja superior à outra ou que sejam ruins, como muitos críticos e professores de literatura apontam.
Uma das hipóteses para tal diferença é que Machado, sendo escritor amplo e extraordinário – tendo obras em todos os principais gêneros literários –, traduziu “O Corvo” pautado no plano de conteúdo do poema: a temática, o conteúdo.
Enquanto Pessoa, sendo exímio poeta, preocupou-se em manter, o mais fielmente possível, a métrica e a rima presentes no texto original.
Em uma leitura primeira e superficial, tem-se a impressão de que não apenas uma tradução nada tem a ver uma com a outra, como também ambas, ou pelo menos uma não apresenta fidelidade ao texto original. Mero engano, pois como já mencionado, cada uma tem suas particularidades enraizadas no estilo de cada tradutor, e, na medida do possível, resultou em um trabalho feito com maestria e digno de reconhecimento.
Por mais perfeccionista que se seja com uma tradução, esta jamais se comparará ao texto original, pois a transcrição tradutória entre línguas, por melhor que fique o resultado final, perde muitos elementos constitutivos de sua magia poética.
Qual tradução escolher fica a critério do leitor, de acordo com sua preferência rítmica ou expressiva e com identificação para com o tradutor.