Tudo que deixamos para trás, da escritora norueguesa Maja Lunde, é uma distopia poderosa sobre sobrevivência humana e abelhas, sobre sonhos e esperanças
Tudo que deixamos para trás é um livro ainda pouco conhecido no Brasil, recentemente publicado pela editora Morro Branco, em 2016. Com esse livro, a autora Maja Lunde venceu o Prêmio Norwegian Booksellers’ Prize, em 2015.
Na época de publicação da obra e da premiação, muitos jornais noruegueses classificaram a obra como uma história provocante que aborda temas complexos. São elas: a ganância humana e as relações familiares. O livro mostra que, para que os seres humanos possam sobreviver, é necessário lutar contra a sua própria natureza e atentar para questões ambientais, devendo olhar para as abelhas.
Mas antes de falarmos da obra especificamente, falemos de Maja Lunde. Você a conhece?
Quem é Maja Lunde?
A autora norueguesa é mais conhecida por ser roteirista e autora de notáveis livros infantis e juvenis. Ela é mestre em Mídia e Comunicação pela Universidadade de Oslo e escreve roteiros para programas de televisão. Alguns deles são famosos, como Hojm e Side om Side, sucessos de audiência.
A primeira obra literária para adultos de Maja Lunde é Tudo que deixamos para trás. Mesmo sendo sua estreia nessa área da literatura, seu livro já é sucesso de vendas. Foi premiado, conforme já mencionado, e teve os direitos vendidos para mais de 25 países.
Personagens e conexões
A história de Tudo que deixamos para trás apresenta três núcleos que se entrelaçam em certo momento da narrativa distópica. São três personagens fundamentais: William, George e Tao. E os capítulos carregam seus nomes alternadamente, cada qual apresentando suas vivências e, de certo modo, suas relações com familiares e… abelhas.
Em 1852, William Savage é um biólogo inglês que tem depressão. Seu sonho era que o nome da família fizesse parte da história, por meio de um marco notável. Deseja, então, criar um tipo de colmeia ideal, utilizada por apicultores do mundo todo.
O personagem George, em 2007, é um apicultor americano que sonha que seu negócio prospere e seja mantido pelo seu filho, Tom, que tinha mais a intenção de seguir sua carreira acadêmica. George é de família apicultora, uma tradição passada de pais para seus filhos. Então, acreditava que Tom podia salvar sua fazenda, mesmo em tempos de crise.
Em uma China futurista, em um período que não sabemos exatamente demarcar, mas seria após de 2045, Tao trabalha na polinização manual das arvores. Passava o dia em árvores fazendo o que seria o trabalho das abelhas, que desapareceram da Terra. Esse trabalho pesado é o que mantém sua família e ajuda na educação de seu filho Wei-Wen.
Contar como as histórias desses três personagens se entrelaçam, seria contar todo o livro. Apenas mencionaremos, portanto, como elas se ligam.
O Colpaso e a importância das abelhas
As histórias dos três personagens fundamentais se ligam por conta do desaparecimento das abelhas, isto é, do DCC – Desordem do Colapso das Colônias. O Colapso é o responsável por mudar a vida de todos: envolve os sonhos de William, os negócios de George e futuro da família de Tao, sobretudo envolve a vida de seu único filho.
Maja Lunde, por meio de seu livro, mostra que as abelhas são as responsáveis pela polonização das árvores frutíferas e de outras plantas. Sem elas, não há mais flores, frutos, alimentos de modo geral. Sem falar no próprio mel.
Além disso, a ausência de tais alimentos não atinge somente a mesa dos seres humanos. Sendo assim, não se trata apenas da escassez de certos elementos da natureza. Também são atingidos os negócios, o mercado de trabalho, a economia mundial. Assim, há fome, pobreza e falta de saúde.
A ausência das abelhas, durante o Colapso, significa que o ser humano precisa lutar contra seus instintos abusivos e preservar a natureza, fazer uso apenas do que precisa, sem aproveitamentos indevidos e explorações.
Diante disso, mais do que uma simples distopia sobre o desaparecimento das abelhas, Tudo que deixamos para trás é um encontro de tempos. Presente, passado e futuro se encontram para nos mostrar que certas atitudes impensadas podem não só prejudicar nossas vidas, famílias e nossos relacionamentos, mas toda a existência humana.
Sonhos podem ser destruídos, famílias podem ser desintegradas, perdas podem acontecer. No entanto, há esperança se agirmos de modo mais correto possível, tanto em relação ao outro quanto à natureza, às espécies.