Um lele-lepo não faz mal a ninguém

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relaxtime

Alguém inventou que em 6 de setembro se deveria comemorar o Dia do Sexo, e cronista em busca de assunto chuta para todos os lados.

Ler sobre sexo é divertidíssimo – não ganha de fazê-lo, é claro (creio também que ninguém tenha cogitado essa possibilidade). E não há nenhuma perversão em ler Decameron, A Casa dos Budas Ditosos, O amor natural, O amante de Lady Chatterley, Trópico de Câncer. Essas obras expandem a nossa compreensão sobre a natureza humana – afinal, qual o objetivo da grande arte, porra?! Os pudicos torcem o nariz e apontam o dedo em riste (ainda bem que é só o dedo) para acusar quem se delicia com elas. Santa ignorância.

Mais de cem milhões de atos sexuais ocorrem a cada dia, segundo a Organização Mundial de Saúde. Estima-se que os seres humanos tenham feito sexo (pelo menos)  mais de 1,5 trilhões de vezes até a presente data. Tu só nasceu porque papai e mamãe contribuíram com a conta. Mas mesmo assim o assunto ainda é tabu. Autores que ousaram a descrever as sensações vivenciadas durante uma relação sexual foram parar nas fogueiras, prisões e nos tribunais, antes de prevalecer a liberdade de expressão.

Passadas as preliminares, imagino que você esteja imaginando em contribuir com a média, mesmo que alguém não tivesse inventado que se deveria comemorar o Dia do Sexo – se fosse o Natal teríamos um milhão de propaganda na tevê. Para não torrar mais a sua paciência, fico por aqui e te deixo como aperitivo o capítulo 14 do Tanto Faz, o genial e cultuado livro de estreia do escritor Reinaldo Moraes. Percebam como as frases simulam o vaivém dos quadris e o ritmo vai aumentando até o ápice do negócio. Pura metalinguagem:

 

ai caralho, vou gozar
não, muito cedo, tenho que guentar, tenho que
guentar
ela tá muito louca, essa mina, não para de mexer esse rabo,
desse jeito não vou me
segurar
ô loco
péra aí, péra aí, baby, só um pouquinho
mais um beijo até o fundo da goela
mais um pouquinho e eu supero a crise do êxtase
não vá pensar que eu já gozei e sair chacoalhando feito uma
louca;
deixa só passar essa supercócega que percorre meu corpo
todo
até se concentrar no pau,
do cabo à cabeça, perigando explodir num jorro de geleia
biológica
e aí, já era
acabou a festa
mais um pouquinho, mais um pouquinho, ui ui
pronto, passou…
agora vem cá, baby, vem cá
mexe daí que eu mexo daqui, sem parar, sem parar,
pra você gozar quantas vezes quiser a noite inteira até se encher
o saco do gozo, do sexo, de mim
rock and roll
sem parar
vamos lá, mudar de posição: você no meu colo agora,
pernas abertas, de frente pra
mim, eu chupando esses peitinhos espinhudos e,
por cima do teu ombro, os telhados
da cidade espiam a nossa trepada
agora já não corro mais o perigo de perder a cabeça, vamos lá,
vamos lá
meu prazer é te ver gozar
um pedaço de mim dentro de você
vejo teus olhos fechados e ouço teus gemidos saindo
em golfadas curtas de ar da tua boca entreaberta
a cada batida do coração e
minhas mãos não deixam nenhum pedaço do teu corpo
esquecido do prazer e
quanto tempo faz que estamos aqui, passeando na cama,
lençóis embolados?
teu cuzinho morde melado a ponta do meu dedo que entra
devagarinho e você estremece e
Oh ah hm OH AH HMMM…
você vai desmaiar, baby?
morrer?
bão balalão senhor capitão
canso, mas você me cavalga, upa upa cavalinho,
agarro suas coxas brancas tão
brancas, pra você não cair do cavalo, mas de repente
o cavalo empina e, opa, cá estou
eu de novo em riba docê
ying e yang, é e maria, queijo com goiabada,
a rotação permanente dos contrários
(noto, olhando pra baixo, que a minha barriga
anda muito saidinha; qualquer dia desses volto ao Cooper)
trintanos me emplacaram ao som de um velho rock
você agarra minha cabeleira hippie e me puxa pros seus lábios
e goza, e goza, e goza e
agora é a minha vez de soltar
lá vou eu
deixa eu ir
e se a gente fosse juntos dessa vez? você consegue de novo?
orgasmos múltiplos. Dizem que as mulheres
queria me desfazer feito sonrisal na efervescência de um gozo
de mulher
sinto que vem, vem, vem que vem, devagarinho,
não mais com aquela urgência do começo
vem agora, como um pássaro lento que se abandona no ar
de asas abertas e
vem
e vem
meu gozo,
meu último acordo
vem
vamos juntos, eu e você, beibebeibeibeibe
e atenção e ai ai AI!
agora sou eu quem arfa e geme e estrebucha e

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