Uma árvore que conta histórias 

0
Uma árvore que conta histórias 
Screenshot

Conheça “A ilha das árvores perdidas” e como a história de uma árvore pode revelar tramas políticas e amorosas.

Elif Shafak: Foto reprodução

Uma figueira como personagem

Você já se apaixonou por uma árvore antes? Pois esteja preparado para ler “A ilha das árvores perdidas” de Elif Shafak. Você vai se fascinar por uma figueira encantadora que conta uma história linda e de quebrar o coração.  

A autora turco-britânica multipremiada criou uma narrativa belíssima e cativante, ambientada na Londres dos anos 2000 e também na ilha de Chipre, nos anos 70. A história de uma família é contada por duas perspectivas principais: primeiro conhecemos Ada, uma jovem deslocada de dezesseis anos, cuja mãe faleceu, e que nunca conheceu a ilha de origem dos seus pais. Paralelamente, acompanhamos a narração de uma figueira, Ficus Carica, que cresceu no jardim da casa da família, e que nos releva uma variedade de conflitos que dizem respeito ao amor, à política, ao luto, ao pertencimento, à religião e, principalmente, ao trauma intergeracional.

Entre guerras e romances

Somos envolvidos pelo encontro do grego Kostas e da turca Defne. Ele, um ecologista e botânico cristão. Ela, uma arqueóloga muçulmana. Ambos apaixonados, enfrentando obstáculos familiares muito claros. Na década de 70, a ilha do Chipre enfrentava uma guerra civil com a invasão da Turquia, cenário que coloca os dois personagens em uma história de amor que enfrentou conflitos étnicos-religiosos. O namoro proibido precisou encontrar um ambiente seguro para se desenvolver. Escondidos, eles costumavam se encontrar sob uma figueira que cresce no meio de uma taberna.  

A árvore, por sua vez, vai narrar os encontros felizes de Kostas e Defne, ao mesmo tempo em que ela também conta sobre como a cidade chegou às ruínas durante a guerra. Quando o casal decide deixar a ilha, trazem consigo um pedaço dela, e decidem plantá-la no terreno da sua nova casa em Londres. Logo, esta narradora peculiar passa a ser, para Ada, a filha inglesa adolescente do casal, a única ligação com a terra de origem conturbada dos pais e de sua família, enquanto a garota procura desvendar os segredos do passado e encontrar seu lugar no mundo.  

Uma obra que emociona

Ao longo do livro, temos doses de reflexão e empatia, como quando a figueira nos conta que, além da idade, os anéis das árvores – os círculos observados nos troncos -, também trazem informações gravadas de “experiências de quase morte e cicatrizes não curadas”. Representando assim, de maneira poética, a herança de cada pessoa que se vê forçada a deixar sua terra de origem e a buscar uma nova vida em um novo país.  

A obra de Shafak é emocionante e dedicada a imigrantes e exilados, àqueles que tiveram suas raízes arrancadas e precisaram se replantar em um novo lugar.  

Créditos HL

Esse texto é de Gabriela Guratti. Ele teve revisão e edição de Nicole Ayres, editora assistente do Homo Literatus.

Não há posts para exibir