Uma cheiradora de livro doidona – Laysa Boeing

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Falarei de manias.

Não, na verdade, não. Não todas as manias, mas uma em especial… O curioso é que se eu for pesquisar, vou encontrar cada coisa esquisita. Esquisita, mesmo. De diferente, de surpreendente e inimaginável. Como Bibliobúlico, que é o nome que se dá pra quem passa a vida lendo, cria um mundo e não consegue sair dele. Tem mania que pode até dar cadeia, como a Bibliocleptomania, que é a mania de roubar livros – sei lá se isso surgiu depois de Markus Zusack. Há também uma tal de Habromania, que é a mania de ser feliz. Ou a Drapetomania, que consiste em querer fugir frequentemente.

A mania, entretanto, da qual venho falar é mais popularizada, justamente por conta de toda a internet e esse compartilhamento absurdamente alto de gigabytes carregados de informações, supérfluas ou não, diárias. É a mania de cheirar livros!

Subitamente, quando vi o termo pela primeira vez, me enquadrei de imediato. Fui pesquisar suas origens e, ao certo, como todas as manias, ela existe muito antes de ter sido diagnosticada. Mas foi em 2010 que Rachel Morrison, uma norte-americana excêntrica, conseguiu um emprego no MoMA, em NY, e resolveu que cafungaria todos os livros das prateleiras de todas as estantes do Museum Of Modern Art. São mais de 300 mil volumes, os últimos dados publicados indicam que ela só cafungou 300, porém não desistiu.

Eu diria que essa cheiradora nata seria esquisitamente louca cheirando 300 mil livros por cheirar. Acontece que o ser humano tem um cérebro que o faz pensar e ninguém ganharia destaque na mídia internacional só por cheirar livros…

Rachel não apenas cafunga os livros, mas tem o cuidado de descrever os cheiros que sente, ao lado do nome do exemplar, minuciosamente, em texto ou frase, dependendo da necessidade. A norte-americana tem como objetivo lançar a discussão da relação entre o impresso e o digital, despertando a relação com a memória sensitiva olfativa que os odores proporcionam – iniciativa muito interessante.

Na entrevista para uma revista renomada de NY, Morrison revelou algumas de suas descrições, como: “cheiro de sovaco”, “um cheiro nojento de cocô de cachorro” ou outras mais agradáveis tais quais: “cheiro de chuva de verão com papel velho” e “abraçar a vovó com seu suéter de lã”. Há aqueles que ela descreveu como objetos: “parte debaixo do sofá”, “madeira”, “esmalte” e “nenhum”.

Aposto que Rachel conseguiu a discussão sobre o impresso e o virtual. Porém com toda essa ideia maluca o que ela mais “fez” foi novos cheiradores de livros. Aposto que quem leu este texto e não tem o hábito de cafungar, vai procurar fazê-lo, assim, discretamente e com um pouco de vergonha, só pra ver que cheiro vai encontrar!

 

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