“Ele era perfeito, a não ser pelo fato de não ser um engenheiro. Mães preferem doutores e advogados”, ela ouvia. Lucy C’est si bom estava estirada no sofá de veludo vermelho. O espartilho negro singrava nas ondas alvas de pele e as pernas enormes alternavam-se para cima e para baixo. O vento que dali escapava enfeitava-se de um cheiro amendoado. Segurava uma taça de gin com a rodela do limão mais verde da despensa que não se via. Só Charles a via. Mas Charles já estava na cama. Lucy agora sibilava: “Pensei que choraria por você pra sempre, mas eu não podia, então não chorei. Os filhos de pessoas morrem e elas não choram para sempre.”
E o sorriso era sutil. Nada que produzisse dobras na pele, para que o batom não deixasse avermelhada a lateral dos lábios, milimetricamente pintados. Lucy estava com a cabeça virada para baixo. Os cachos louros sustentando-se por fios grossos e bem amarrados em uma fita negra de bolinhas brancas. O seu soldado muito longe neste momento. Provavelmente com as mãos sujas de sêmen. “Filho da puta!”, pensaria, mas o gim apenas a deixava pensar: “Me puseram pra voar fora dessa janela. Estou voando desde então, estou voando pelos céus”. E até quando a voz se pôs mais grossa, sussurrou um “ops” seguido de um biquinho de arrependimento e a palma da mão na frente dos lábios. Os olhos arregalados diante da grosseria reafirmavam o quanto esse tom era sórdido para Lucy. A gravidade da voz era uma afronta muito deselegante com o soldado.
E a mente quase voltaria para a imagem do seu soldado. Das suas mãos. Grossas e grandes. Sêmen grudando os pelos. Olhos aturdidos que mal perderam o brilho quando, surpreso, viu chegar C’est si bom. “Não é o que você está pensando. Ela só estava…”. E Lucy retirou-se do aposento do soldado quase deixando o sapato para trás. Não gostava de correr. Ele ainda correu com mais desenvoltura, mas amarrar as calças era dificultoso demais para se fazer nos poucos segundos que dispunha e apesar de C’est si bom ter nádegas incrivelmente saciáveis para as mãos grossas e firmes, a cama não estava vazia.
“Seria melhor que um tiro tivesse lhe soprado os neurônios para fora”, choramingou. E prometeu, prometeu com todas as forças que muitos outros soldados teriam as mãos tão sujas quanto a do seu soldado. Não sabia como, mas sabia que a sua vingança seria legitimada. E agora, com as pernas pra cima, com o gim na mão, com o batom milimetricamente posto na boca, com o corpo arte-finalizado por um anjo provavelmente mais belo que lúcifer, Lucy arquitetava sua vingança. Mas C’est si bom não soube como fazê-la. Tudo era baixo demais em matéria de…vocês sabem. Ela não. Lucy é intocável demais para saber.