Vamos falar sobre Homens?

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Vamos falar sobre Homens?

A série “Homens?”, de Fábio Porchat, consegue trazer a discussão do que seria um “homem de verdade” de forma hilária.

A trama

A série “Homens?” é transmitida pelo Comedy Central e pela Prime Vídeo da Amazon. Ela traz a história de quatro amigos que, criados dentro dos preceitos machistas, são grandes replicadores do sistema patriarcal. Em certo ponto, mesmo sem perceberem, sentem-se sufocados por este mesmo sistema esmagador.

O protagonista Alexandre (Fábio Porchat) é o primeiro a propor o questionamento sobre os modos de vida que ele e seus amigos levam, além do motivo principal (hilário e irônico): seu pênis. Interpretado por Rafael Portugal, ele passa a ter conversas profundas e não mais obedecer aos comandos do Alexandre – ou seja, fica impossibilitado de praticar relações sexuais.

Após, sem sucesso, ir em busca de várias “fórmulas mágicas” para tentar resolver o empecilho de sua impotência, Alexandre começa a questionar se sua situação não é fruto de algum problema psicológico. Logo, ele começa a refletir sobre a absurda necessidade de que todo homem tem de ser uma espécie de “garanhão” para se sentir mais homem.  

Dentro desse contexto caótico da sua vida íntima, ele resolve recorrer à – péssima – ajuda de seus amigos, que, por sua vez, encontram-se em circunstâncias machistas piores do que a dele.

Os personagens

Rafael Portugal e Fábio Porchat: foto divulgação

Pedrinho (Rafael Logan) é um executivo que mantém um relacionamento com uma colega de trabalho casada e que tenta desencorajá-la a denunciar os abusos de seu chefe. Gustavo (Gabriel Godoy) é um homem mimado e sem rumos na vida que enxerga mulheres apenas como suas servas. Pedro (Gabriel Louchard), um autêntico cafajeste, casado e boêmio, não aceita descobrir que sua esposa também possui um caso extraconjugal.

Junto a essas companhias, Alexandre, um publicitário responsável por várias campanhas machistas, tenta encarar a sua realidade e a de seus amigos, entendendo que existe algo muito errado. Com a ajuda da prostituta Tainá (Lorena Comparato), sua mentora sobre feminismo e “psicóloga”, ele passa a enxergar a realidade como ela realmente é: ele e seus amigos são uns babacas! E, assim, sente que algo precisa ser feito.

O machismo cotidiano

Por meio de suas reflexões do que é respeito e igualdade, Alexandre passa a desconstruir a sua mentalidade e a de seus amigos, fazendo-os ponderar sobre suas atitudes e bordões carregados de preconceitos. Ele quer tirar a venda dos olhos de quem não enxerga que o mundo está mudado e os homens estão ficando para trás.  

Com muito humor, Porchat nos faz ter raiva do machismo enrustido nas situações cotidianas e, ao mesmo tempo, rir das cenas inusitadas a que os personagens são submetidos. É fantástico o modo como ele consegue ironizar nossa sociedade descaradamente ao fazer os personagens se contradizerem quase que imediatamente, gerando um certo sentimento de “déjà-vu” no espectador, que vivencia aquilo na vida real sem se dar conta do quão absurdo é.

A desconstrução

Acostumados a alojarem-se em seus pedestais cheios de testosterona, os quatro amigos vão se descontruindo aos poucos, atravessando fronteiras do ego e adentrando terrenos antes desconhecidos por eles. Passam a viver a vida de maneiras que antes nem imaginavam e, o ponto ápice da série, passam a gostar disso.  

Com diálogos provocativos e afiados, a série “Homens?” traz muito mais do que humor de qualidade. Traz também uma grande reflexão sobre nossos modos de encarar conversas preconceituosas como se fossem naturais. Além disso, trata também da importância de corrigirmos e mostrarmos o outro lado da moeda às pessoas do nosso círculo quando ouvimos alguma grande bobagem.

Não se trata de uma política do cancelamento, mas um momento de aconselhamento, de transmissão prática muito útil para aqueles que ainda seguem desatualizados com a evolução da sociedade, pois não há mais espaço para atitudes e comentários maldosos, inapropriados e primitivos.

Créditos Homo Literatus

O texto acima é de autoria de Gabriela Guratti, colaboradora fixa do Homo Literatus.

A revisão é de Fernando Araújo. A edição é de Nicole Ayres (editora assistente do Homo Literatus).

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