Vinicius de Moraes, Centenário de Um Poeta Boêmio

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Cem anos estaria fazendo Marcos Vinícius de Melo Moraes nesse ano da graça de 2013, em 19 de outubro. Entre os dez melhores poetas brasileiros de todos os tempos, de Castro Alves a Manuel Bandeira, de Jorge de Lima a Carlos Drummond de Andrade, passando por João Cabral de Mello Neto até Manuel de Barros e mais recentemente Carlos Nejar, certamente Vinicius de Moraes está entre eles com méritos, com louvor.

Diplomata, advogado, compositor, cronista, literato, teatrólogo, cantor e, claro Poeta, Vinicius de Moraes foi multimídia muito antes deste termo ter sido inventado, tornando-se o mais pop poeta brasileiro por conta de suas parcerias de lastro na fauna notívaga da MPB que iam de Tom Jobim a Chico Buarque de Hollanda, se firmando, claro, com Toquinho com o qual fez dupla dinâmica de louvações ao amor total e pleno, em prazeiranças e dor de cotovelo. Diplomata da Poesia e da Bossa Nova junto com João Gilberto, Vinicius compôs as mais belas páginas musicais do cancioneiro popular de nosso tempo, além de ter sido um poeta que, moderno ainda assim foi romântico, e, romântico belamente cantou suas musas e aventuras amorosas de grosso calibre em Ipanemas e outras praias do Rio de Janeiro, seu habitat em potencial.

Vininha seu apelido para os íntimos, ou Poetinha para o meio lítero-musical, Vinicius de Moraes era boêmio e barista pela própria natureza, cantou a Garota de Ipanema e foi personagem de si mesmo, dando encanto e simpatia à nossa cultura enriquecida com seu lastro-lavra. Amou e foi amado. Tomou todas e mais algumas. Cantou o amor, a mulher companheira, foi um verdadeiro seresteiro pós-moderno que cativava um público tão fiel quando, num simples banquinho, com seu boné e a vaidade artisticamente natural, ao lado do excelente violonista Toquinho, fazia o povo cantar junto seus sucessos que marcaram época, marcaram presença, tornando a nossa Música Popular Brasileira ainda mais musicalmente rica, mais gostosamente popular e profundamente brasileira com tantas misturas. Saravá, Baden Powel.

Morando fora do Brasil, era referencial de nossa cultura em altíssimo nível, valorizando nossas raízes do afro ao carnaval, do samba ao ritmo malemolente de nossa riqueza híbrida com envergadura altamente criativa de mestiçagem por atacado, tendo sido premiado em Cannes, ganhou Oscar em Hollywood (Orfeu Negro), foi ainda jurado em Cannes  e até membro da UNESCO.

Escreveu peças de teatro, elaborou monólogos, o poema Porque Hoje é Sábado acabou virando expressão de cunho popular, também roteirizou filmes e brindou seu público leitor com crônicas e belíssimos sonetos da eterna fidelidade ao amor.

Na foto: o poetinha com seu grande amigo Tom Jobim
Na foto: o poetinha com seu grande amigo Tom Jobim

Tive o prazer de conhecê-lo muitos anos atrás, num bar dos Jardins em Sampa, quando ele estava num coquetel de lançamento de livros e, tomando todas e mais algumas, ao ser assediado por fãs e curiosos, de repente, mesmo esbanjando simpatia, deu o chamado ‘cinco minutos’ nele, e, chamando um táxi, pegou um copo grande do bar, encheu de uísque importado e, mesmo já tendo tomado todas e estar vermelhinho como um pimentão, lá se foi o Poeta Vinicius de Moraes bebericar aquela enorme dose de saideira em trânsito, rumo ao hotel ou ao aeroporto de volta à sua cidade maravilhosa.

De potencial único como letrista, ao mesmo nível de nossos maiores e melhores craques-letristas de MPB de primeiro time, Vinicius de Moraes deu envergadura à poesia propriamente dita, porque colocou música em seus poemas  espetaculares, valorou as letras de música assim, e mostrou  então que uma coisa cabe na outra e ambas, nele, se completavam como arroz e feijão ou feijoada e caipirinha.

Vinicius de Moraes, um dos dez maiores poetas brasileiros, ganhou nome pelos seus cantares de amar de acontecências, adquiriu fama internacional nesse fulcro, sempre por ter uma ternura toda especial no olhar as mulheres como flores-fêmeas e pregando um grandioso amor que fosse infinito enquanto durasse na sabedoria das entregas.

Depois dele, com certeza, nunca mais a MPB teve vergonha de cantar as tristezas do amor, a dor-de-cotovelo, as esperanças dos encontros e desencontros, as perdas e traumas das despedidas, porque ele foi um arauto moderno do amor em potencial, um amante de cultivar a mulher amada com flores-poemas de seus versos encorajadores das trocas ternas, dos afetos mais sublimes nas jangadas das noturnas alcovas. Foi admirado pelas mulheres que sabem que amar se aprende amando, e deixou no caminho da historicidade lítero-musical brasileirinha, a sua marca de cantador de todo amor que pudesse substituir as solidões e as desesperanças.

Saravá, Poetinha Vinícius de Moraes!

Estamos ainda aqui entornando os caldos, a esperança venceu o medo de ser feliz, cantando o amor à moda antiga (do tempo que se mandavam flores), nós te reverenciamos porque foste o Diplomata do Amor na poesia que tanto trabalhaste como o tecelão faz do tear de palavras a colcha de retalhos dos poemas cheios de encantos e prazeiranças, com múltiplas faces, coloridos de enfoques sensíveis, numa lírica de sensualidade sem igual.

Com a música e a poesia, na prosa ou nas tuas gratificantes gracezas infanto-juvenis, como crítico de cinema ou jornalista, enluado em seus ecos de cristais mostraste sim, na prática, que tudo é uma verdadeira soma, na arte sublime do encontro. Porque hoje é sábado, a benção, Vininha!

E aqui também em tua homenagem somamos saudade e amor, força e luta, uísque e sonho, fé entre noiteadeiros, barulhanças e forfés. Porque foste a primavera e teus poemas-flores ainda viçam em canteiros e cantorias.

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