A visitadora e Mario Vargas Llosa

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Guardadas as devidas proporções, porque Maria UPP não é prostituta, a história não se passa na Amazônia peruana e a PM-RJ não é o exército do Peru, mesmo que o pessoal tenha tentado com afinco, vai dizer que não te lembra O Pantaleão e as Visitadoras, do Mario Vargas Llosa?

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A história da jovem Patricia Alves prova que a vida cisma em imitar a arte. A moça, conhecida como Maria UPP, embora prefira o apelido de Patificação, revelou que há cinco anos vinha fazendo visitinhas sexuais aos policiais militares do Rio de Janeiro lotados em Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), durante as madrugadas. Ela afirma ter transado com mais de mil deles. Guardadas as devidas proporções, porque Maria UPP não é prostituta, a história não se passa na Amazônia peruana e a PM-RJ não é o exército do Peru, mesmo que o pessoal tenha tentado com afinco, vai dizer que não te lembra O Pantaleão e as Visitadoras, do Mario Vargas Llosa?

No romance do prêmio Nobel de literatura de 2010, Pantaleão Pantoja, oficial do exército peruano, deve cumprir a árdua missão de criar o Serviço de Visitadoras para Guarnições, Postos de Fronteiras e Afins (SVGPFA), quer dizer, um serviço de prostitutas para as Forças Armadas do Peru, que estavam isoladas na selva amazônica, num maior zero a zero. Altamente disciplinado, o militar faz do que deveria ser uma missão ultra secreta o maior empreendimento de prostitutas do país, o que acaba por virar do avesso a sua vida, ele se enrabicha por uma das visitadoras, e a da cidade de Iquitos, local onde as moças são alocadas.

Corte contínuo pra vida real. Maria UPP fazia tudo por puro amor à farda, só aceitava um dinheirinho para o táxi e um lanchinho para recuperar as forças. Para mostrar o seu compromisso com o projeto de pacificação das comunidades do Rio de Janeiro, ela tatuou a sigla UPP lá nas partes íntimas. As visitas foram descobertas pela esposa de um dos PMs que, temendo que o seu esposo e os de suas colegas fossem usurpados pelos prazeres clandestinos, caguetou o esquema. A Corregedoria da corporação e a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) tentam identificar os policiais que tiveram relações sexuais no local de trabalho e durante o expediente, além do sujeito que emprestou a farda e colocou um fuzil (um fuzil, crivo!) na mão da Maria UPP.

Natural de Pernambuco, Patrícia Alves se mantinha no Rio de Janeiro com aporte financeiro de sua família. Porém, depois que os vídeos e as fotos do lepo lepo vazaram na internet, os caraminguás pararam de ser enviados. Para ajudá-la, os PMS lançaram a campanha UPP—Unidos Pela Patty, com intuito de arrecadar fundos para aquela que pacificou as noites perigosas de campana e tornou o turno da madrugada muito mais gostoso e concorrido, enquanto toda a sociedade dormia o sono dos justos e dos egoístas também. Mas agora tudo indica que o sustento da moça não sairá mais do minguado soldo dos policiais. Ela foi convidada para protagonizar um filme para adultos. Maria UPP ruma ao estrelato. Oxalá.

Post-scriptum – Sem esquecer o hilário livro do Mario Vargas Llosa: se no comitê da Copa do Mundo tivesse um ser tão disciplinado quanto Pantaleão Pantoja, as coisas já estariam bem adiantadas. Não acham?

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