“Importante entender que editar não significa mudar o início, o fim ou o meio da história, e sim colaborar para que o texto fique mais claro, mais limpo, mais objetivo e interessante. Este é o trabalho do editor e da editora”.
Entre as principais reclamações do autor em relação ao trabalho das editoras sob demanda é que, segundo eles, a maioria atua como gráfica. Ou seja: de serviços editoriais, oferecem muito pouco, e terminam por simplesmente entregar o livro impresso na mão do autor e fim. O que qualquer gráfica pode fazer.
Porém, a pergunta que não quer calar é: o autor está preparado para receber e usufruir dos serviços de uma editora?
Tal questionamento parece absurdo, mas não é.
Primeiramente, em se tratando de editoras sob demanda, que trabalham com pequenas tiragens, é comum que o autor opine sobre tudo: revisão, edição, capa, diagramação, formato. Estes detalhes não são definidos baseados em uma análise mercadológica ou editorial, e sim conforme o gosto e a vontade do autor – que fica feliz em palpitar sobre todos os detalhes do seu livro, sem entender que este trabalho deveria ser de sua editora. Logo, satisfaz-se com um serviço de gráfica, e se a editora tentar fazer seu trabalho e opuser-se aos seus devaneios, é imediatamente vetada.
1 x 0 pra gráfica.
Em segundo lugar, é raro uma editora especializada em publicar o novo autor realizar um trabalho de edição de texto – o que, se for analisar, é um de seus principais atributos. Os originais costumam ser deliberadamente aprovados, muitas vezes sem qualquer avaliação, e a revisão fica por conta do autor. A editora não muda uma vírgula, um acento, uma palavrinha. Nem mesmo as que estão erradas.
Importante entender que editar não significa mudar o início, o fim ou o meio da história, e sim colaborar para que o texto fique mais claro, mais limpo, mais objetivo e interessante. Este é o trabalho do editor e da editora. Mas quem foi que disse que o autor deixa alguém se aproximar de seus infinitos caracteres? Deus me livre! Se tirar um travessão, o autor berra. Uma gráfica, por sua vez, não toca nos textos que imprime, e o autor sorri feliz.
2 x 0 pra a gráfica.
E, por fim, vem a tal divulgação, exigência número um de dez entre dez autores. O que eu gostaria de saber é: a editora não opinou sobre a revisão, a edição, a capa, a diagramação, a tiragem, e nem mesmo o formato do livro. A editora não tocou no texto, não alterou um ponto e vírgula e, até o momento da impressão, apenas intermediou o contato do autor com seus próprios fornecedores.
Como então que, de repente, a editora precisa assumir integralmente a responsabilidade de divulgar um livro sobre o qual não trabalhou em praticamente nada?
Se quiser exigir que sua editora aja como uma editora, e não como uma gráfica, trate-a como uma editora, e não como uma gráfica. O novo autor tem a mania de não confiar em sua editora, e não permite que ela faça o trabalho que lhe cabe, e pelo qual está sendo paga. Em um processo editorial sério e comprometido, o autor é somente uma das partes atuantes, e não o poderoso chefão.
Vejam bem: não acho nada de errado no fato do autor querer palpitar em todas as fases do processo de edição de seu livro. Mas, neste caso, considero incoerente que cobre de sua editora um trabalho que, se ela oferecesse, ele não aceitaria de qualquer maneira.
Existem muitas pessoas envolvidas no processo de edição, produção, impressão e divulgação de um livro, e pode ter certeza de que todas estas pessoas, assim como o autor, têm o mesmo objetivo, e estão dando o seu melhor para que o livro seja um sucesso.
Então, pense bem se você quer mesmo uma editora que ofereça um serviço de editora, ou uma editora que faça somente a ponte entre você e seus fornecedores. Mas saiba que, caso opte pela primeira opção, também terá de ceder, aprender a receber, e falar com a mesma frequência com que irá ouvir.
Se não estiver disposto, tudo bem.
O placar permanece 3 x 0 para a gráfica.