O Prêmio Nobel da Literatura é o prêmio que mais expectativas e paixões gera à sua volta. Há quem o menospreze, há quem o relativize, mas ninguém lhe consegue ficar indiferente. Ganhar o Prêmio Nobel da Literatura não significa apenas ganhar um dos mais generosos, e o mais conhecido, dos prêmios; significa antes de mais entrar para uma galeria ilustre e muito restrita de imortais.
Ano após ano sucedem-se as apostas, as listas de candidatos favoritos, as decepções. No fim haverá apenas um vencedor – que nem que seja um ilustre desconhecido, verá as vendas dos seus livros aumentarem exponencialmente, o seu nome em jornais de todo o mundo, pedidos de entrevistas, pedidos de declarações… (embora o Prêmio Nobel da Literatura já tenha sido entregue a mais que um candidato no mesmo ano, isso é muito raro, e não acontece desde 1974, tendo sido entregue apenas por 4 vezes a dois vencedores, desde o longínquo primeiro vencedor, Sully Prudhomme, em 1901).
Amanhã, dia 10 de Abril de 2013, pelas 13h, hora local de Estocolmo, será anunciado o nome do novo Prêmio Nobel de Literatura. A data do anúncio do Prêmio Nobel de Literatura, como é tradição, apenas foi conhecida na passada segunda-feira, ao contrário da data de anúncio dos restantes Prêmios Nobel, que já eram conhecidas desde o dia 8 de Abril de 2013. Quem será o sucessor de Mo Yan? As casas de apostas estão em ebulição, por todo o mundo são apontados nomes de hipotéticos candidatos. O Prêmio Nobel de Literatura é um prêmio que geralmente suscita debates, críticas, e incompreensões. Nomeadamente porque a maioria das pessoas ainda não se convenceu que o Prêmio Nobel de Literatura não é um prêmio estritamente literário. Em palavras simples, diria que é um prêmio na área da Literatura para quem com a sua obra contribuía para tentar melhorar a humanidade. É esse o legado de Alfred Nobel.
Admirados? O excerto do testamento de Alfred Nobel, o criador e inventor que tinha registadas cerca de 350 patentes aquando da sua morte, mais conhecido por ter criado a dinamite ou a borracha sintética, inventos que lhe deram fortuna:
“(…) Os dividendos referidos serão divididos em cinco partes iguais, por forma a serem atribuídos da seguinte maneira: uma parte para a pessoa que tenha levado a cabo a maior descoberta ou invenção no campo da Física; uma parte para a pessoa que tenha levado a cabo a maior descoberta ou melhoramento no campo da Química; uma parte para a pessoa que tenha levado a cabo a maior descoberta no campo da Fisiologia ou Medicina; uma parte para a pessoa que tenha produzido no campo da Literatura o mais brilhante trabalho de tendência idealista; e uma parte para a pessoa que tenha feito o maior ou melhor trabalho em prol da fraternidade entre as nações, pela abolição ou redução das forças armadas, ou em prol da realização ou pela promoção de congressos pacifistas. (…)”
Mas quem são os favoritos a ganhar o Prêmio Nobel da Literatura de 2013? E quais as suas reais hipóteses? No últimos anos, como consequência do número cada vez maior de pessoas com acesso à internet, e principalmente dos acertos e quase acertos da casa britânica de apostas, Ladbrokes, este assunto tem gerado cada vez mais interesse, discussão, e… apostas.
Aqui deixo um resumo dos últimos anos. Quais eram os nomes apontados como favoritos por esta casa de apostas, e em que posição se encontrava quem efetivamente ganhou. Começo com o já distante ano de 2004.
Se os apostadores e os críticos literários do mundo inteiro estivessem certos, Adonis, poeta Sírio que na última década tem estado sempre entre os favoritos a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, teria ganho em 2004; porém o Prêmio foi para a novelista e dramaturga Austríaca Elfriede Jelinek, um dos mais contestados Prêmios Nobel de Literatura dos últimos anos, levando mesmo à saída de Knut Ahnlund da Academia Sueca, acusando a obra de Elfriede Jelinek de ser uma «choramingueira e pornografia de mau gosto», «uma massa de texto, junta sem qualquer estrutura artística». Knut Ahnlund afirmou ainda que este Prêmio Nobel «não só causou danos irreparáveis a todas as forças progressitas, mas também confundiu a visão geral da Literatura como uma Arte». Adonis voltaria a ser o principal candidato, para apostadores e críticos no ano seguinte, em 2005, mas uma vez mais a Academia Sueca supreendeu ao laurear o dramaturgo britânico Harold Pinter, autor de um vasto trabalho, mas desconhecido para a maioria do público, e também para muitos críticos, livreiros, e editores, que de repente, como sempre acontece quando há um novo Nobel de Literatura, procuravam desesperadamente as suas obras.
2006 foi o ano da grande surpresa. Favorito nas casas de apostas desde o primeiro instante, com Adonis logo atrás, o turco Orhan Pamuk era apontado também pela crítica como um potencial vencedor. E foi o que veio a acontecer. A Academia Sueca deu-lhe o Prêmio Nobel de Literatura, com a seguinte declaração: «que na busca pela alma melancólica da sua cidade natal descobriu novos símbolos para o choque e interligação de culturas». Todo o mundo ficou satisfeito? Não há Prêmios Nobel da Literatura concensuais. Apenas não foi uma surpresa.
Depois deste acerto das casas de apostas, em concreto, da Ladbrokes, as atenções passaram a focar-se ainda mais nas probabilidades fornecidas por esta empresa. Em 2007 Philip Roth, outro dos escritores crônico candidato ao prêmio, era o apontado como principal candidato. O Prêmio voltaria finalmente aos Estados Unidos, que desde que a escritora Toni Morrison ganhou, em 1993, nunca mais contemplou um Norte-Americano? Jornalistas e editores de todo o mundo estavam em êxtase, mas a Academia Sueca tinha um balde de água fria para lhes despejar em cima. O prêmio distinguiu Doris Lessing, romancista Britânica com uma vasta obra publicada, que vai desde a autobiografia até a ficção científica, mas que já ninguém esperava que ganhasse o Nobel, pois tinha 88 anos quando foi galardoada. Não se pode afirmar que seja uma má escolha, mas já ninguém esperava uma escolha tão tardia.
O ano de 2008 dividiu críticos e casas de apostas. Enquanto nas casas de apostas o Italiano Claudio Magris era o favorito, seguido por Amos Oz, e Joyce Carol Oats, na crítica ia-se falando, ou melhor, murmurando, o nome do Francês Jean-Marie Gustave Le Clézio. A França já não recebia um Prêmio Nobel de Literatura desde 1985, quando foi laureado Claude Simon – é verdade que Xao Xingjian, escritor Chinês naturalizado Françês, e que também escreve em Françês, além de Mandarim, tinha ganho em 2000, mas não era a mesma coisa – pelo menos para os críticos. No fim Jean-Marie Le Clézio seria o vencedor do Prêmio Nobel, para agrado daqueles que se atreveram a apostar nele.
Amoz Oz, que aparecera entre os apontados como favorito no ano anterior, foi em 2009 o principal candidato para os críticos e apostadores. Joyce Carol Oates, e Philip Roth vinham logo atrás. Nenhum ganhou, e suspeita-se que tenha havido alguma fuga de informação na última semana antes do anúncio. O nome de Herta Müller, Romena naturalizada Alemã, escritora praticamente desconhecida, à data, fora da Alemanha, mas que já tinha ganho alguns prêmios importantes deste país, escala até aos primeiros lugares do topo dos favoritos das casas de apostas, que por várias vezes suspenderam as apostas, para diminuirem o preço que seria pago por cada libra investida. No momento em que as apostas foram encerradas (o que acontece normalmente uma hora antes do anúncio da Academia Sueca), Herta Müller estava já em segundo lugar. Seria a vencedora, uma hora depois, com a declaração: «que, com a densidade da sua poesia e franqueza da prosa, retrata o universo dos desapossados».
Em 2010 o nome do futuro Prêmio Nobel Tomas Tranströmer aparece pela primeira vez entre os principais candidatos. A Ladbrokes coloca o seu nome em primeiro lugar, seguido de outro nome que aparece igualmente pela primeira vez, não na lista, onde já aparecera, mas entre os favoritos, Haruki Murakami. Ko Un, e o eterno candidato Adonis, aparecem muito perto, com probabilidades semelhantes. A crítica inclina-se para Tomas Tranströmer, justificando a escolha com o fato de ser um poeta, e de o Prêmio Nobel há muito não ficar em casa. Desde 1974 que não havia um Prêmio Nobel Sueco, e continuaria assim até ao ano seguinte. Foi o Peruano Mario Vargas Llosa, que aparecia em 17.º lugar na lista da Ladbrokes, quem foi laureado.
Tomas Tranströmer, apontado como principal candidato de 2010, venceria o prêmio em 2011, acabando com um «jejum» Sueco de quase 40 anos, quando o prêmio havia sido entregue a dois candidatos (a última vez que tal aconteceu), ambos Suecos: Eyvind Johnson, e Harry Martinson. Nas listas de favoritos aparecia em segundo, com Adonis uma vez mais apontado como o principal candidato, e Haruki Murakami a completar o pódio. Mas nas apostas, e mesmo entre alguns críticos que há alguns anos veem reclamando um prêmio Nobel que contemple poetas cantores, o nome de Bob Dylan começava a ser apontado. Na última semana, momento em que alcançou o primeiro lugar, as casas de apostas só já pagavam 2 libras por cada libra apostada no seu nome. Era dado quase como certo que seria o vencedor, e críticos, fãs, admiradores, jornalistas e redes sociais, estavam em ebulição. Mas não aconteceu…
Tal como este ano, também em 2012 o nome de Haruki Murakami era indicado como o principal candidato a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Será desta? É a questão que muitos fãs ao redor do globo estarão fazendo neste momento. Mo Yan, o vencedor de 2012, estava em segundo lugar, e o Holandês Caes Nooteboom, depois de ter vindo a subir alguns lugares ao longo da semana, estava em terceiro. Claro que quando o nome do laureado é anunciado, é sempre uma surpresa para alguns, um escândalo para outros, uma injustiça, uma polêmica. Este ano Joyce Carol Oates aparece em segundo lugar, e Peter Nadas em terceiro. Na última semana um nome do fundo da tabela foi galgando posições, obrigando as casas de apostas a suspenderem as apostas por várias vezes, estando já em quarto lugar: o dramaturgo Norueguês Jon Fosse.
Por diversas vezes, nos últimos anos, o prêmio foi atribuído a um dos escritores do top 10; a um dos escritores que é apontado desde o início, ou um dos escritores que vem ganhando posições nos últimos dias. Sairá de entre Haruki Murakami, Joyce Carol Oates, Peter Nadas, e Jon Fosse o nome do vencedor? Ou a Academia Sueca tem uma surpresa reservada para nós? A resposta será dada na próxima Quinta-Feira, dia 10 de Outubro de 2013.
Post-Scriptum: após ter concluído este artigo, outro nome surgiu como forte candidata ao Prêmio Nobel, falo da Bielo-Russa Svetlana Alexievich, jornalista e escritora, que se foca principalmente nos temas dos desastres nucleares (ela nasceu na Ucrânia, onde aconteceu o desastre de Chernobil), guerra, e período pós-soviético. Também Alice Munro, tenho um pressentimento que será ela a vencedora, conforme comentei aqui, subiu a cotação entre os apostadores, encontrando-se agora atrás do favorito Haruki Murakami.