Cada um dos livros narra os eventos dos games, nenhuma novidade até então. Um primeiro questionamento sobre isso seria: para que vou ler algo que já joguei?
A franquia de games Assassin’s Creed, conhecida dos amantes de videogames, é um sucesso mundial com mais de 70 milhões de unidades vendidas. Em novembro será lançado o quinto episódio, chamado Unity, para a nova geração de consoles. A febre é tanta que já está prevista uma adaptação cinematográfica para 2015, filme produzido e estrelado por Michael Fassbender.
Com uma nova política de expansão de mercados, a Ubisoft, dona da franquia, assim como outras empresas do gênero, expandiu a série para além dos games, chegando até os livros. Para isso contratou o escritor Oliver Bowden (pseudônimo), responsável por romantizar as histórias dos jogos. Neste artigo não vou discutir os fins mercadológicos e financeiros desse tipo de produto, apenas levantarei alguns tópicos no campo literário das obras já lançadas.

Cada um dos livros narra os eventos dos games, nenhuma novidade até então. Um primeiro questionamento sobre isso seria: para que vou ler algo que já joguei? É uma boa indagação. A diversão da leitura vai além dos eventos já vivenciados nos games, pois o autor reinventa a trama sem alterar o enredo das histórias. Pelo contrário, ele consegue incrementar mais conteúdo, aumentando a verossimilhança da narrativa.
O leitor descobre fatos e experiências dos personagens que não foram contados antes ou que foram apenas citados superficialmente. Cada um dos Assassinos tem uma personalidade construída solidamente nos games, mas ganham ainda mais alma nos livros. Conforme o leitor avança as páginas, começa a sentir uma espécie de tensão pelo que virá, pois nos games não foram abordados todos os aspectos da história do Assassino da vez.
Se você não jogou Assassin´s Creed, pode estar pensando: “Do que esse cara está falando?” Bem, vamos a uma breve explanação, embora sugiro que pare tudo que está fazendo na sua vida e vá jogar!
O Credo dos Assassinos é uma irmandade destinada a proteger a humanidade das garras dos Templários, cujo objetivo é trazer a ordem e disciplina a qualquer custo. Para dominar a humanidade os Templários procuram pelos Pedaços do Éden, artefatos deixados por Aqueles-Que-Vieram-Antes. Esses artefatos tem muitos poderes, entre os quais a capacidade de controlar a mente humana.
Pense comigo: se um artefato que pode controlar mentes cai nas mãos de uma galerinha que deseja dominar a humanidade… Boa coisa não podemos esperar disso, certo? Voltemos para a discussão literária.

Os livros lançados no Brasil ultrapassaram a marca de 200 mil cópias, e os jovens compõem o publico-alvo. Por isso a escrita de Oliver Bowden não tem nenhuma elaboração literária. Dá pro gasto. É notável a evolução da escrita no decorrer dos livros – principalmente depois dos três primeiros, mas como é destinada ao público adolescente, a escrita é limitada. Se você não é exigente com esse tópico, a diversão está garantida.
Cada livro aborda um Assassino. Os dois primeiros volumes relatam a vida de Ezio Auditore de Florença. O terceiro de Altaïr Ibn-La’Ahad (desafio você a pronunciar esse nome!). Note que os livros não foram lançados na ordem dos games, muito provavelmente porque a Ubisoft só entendeu a potencialidade do mercado literário após lançar o primeiro jogo. O quarto livro encerra a saga de Ezio.
Vou comentar os livros na ordem do lançamento dos jogos. Fique tranquilo(a), não haverá spoilers. O Assassino Altaïr Ibn-La’Ahad viveu na época da Terceira Cruzada, foi o grande responsável pela reorganização do Credo. O leitor se depara com a grande personalidade desse Assassino, que se tornou a inspiração para seus descendentes e o futuro do credo. Não é à toa que ele é considerado o maior dos Assassinos.
O segundo Assassino abordado nos livros é Ezio Auditore. A história desse florentino da Renascença é tão rica que foi dívida em três games/livros. Assim como na biografia de Altaïr, o leitor se depara com um personagem que é literalmente jogado em uma trama maior que sua vida pessoal. E no decorrer dos três livros ele precisa crescer física, mental e espiritualmente. Quem quiser conhecer na prática os princípios da jornada do herói de Joseph Campbell, Altaïr e Ezio são os modelos.
Nos livros seguintes, é relatada a vida dos Kenway. Diferentemente dos destinos de Altaïr e Ezio, a família Kenway pode ser considerada um eco moderno da Tragédia Grega. Nas histórias de Edward, Haytham e Connor Kenway o leitor também presencia a jornada do herói, contudo com um desfecho… digamos, menos glorioso. Não vá achar que todos eles morrem! Ou será que morrem? Não sei, não lembro. Leia e descubra, pois há coisas piores do que a morte.
Em novembro será lançada a nova obra baseada no game Unity, e o livro já está em pré-venda em algumas livrarias. A história se passará durante a Revolução Francesa e terá como protagonista o Assassino Arno Victor Dorian.
A série Assassin´s Creed tem o mesmo potencial do videogames para prender o leitor em suas páginas por horas e horas – minha esposa que o diga! É diversão garantida para quem gosta de literatura simples. É recheado de emoções e reviravoltas conspiratórias. Acredito ser um ótimo incentivo para adolescentes submersos em uma sociedade consumista e imediatista como a nossa. Por quê?
Porque os Assassinos, muitos deles iniciados no credo ainda crianças ou adolescentes, tiveram de aprender que a vida é algo maior do que a importância do nosso umbigo. Eles se sacrificaram de diversas maneiras para proteger a humanidade dos perigos do egoísmo sem limites. Não estou levantando a bandeira do que é moralmente certo e errado, apenas reforçando a ideia de que esses livros podem ajudar jovens – e adultos também – a se inspirar e dedicar sua vida a algo maior.
Convido você a dar seu Salto de Fé.