‘Eu, Cowboy’, de Caco Ishak: o vislumbre de uma geração

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A busca do cowboy extrapola o “eu”, investiga o sentido do “outro”, põe em xeque a sanidade dos relacionamentos

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Caco Ishak

Chegar aos 30 sem a mínima ideia do que fazer com toda uma vida pela frente. Largar a faculdade de Direito e virar artista plástico. Planejar uma viagem de carro pelo continente americano com os amigos. Amar, separar, cuidar de uma filha. Colocar o chapéu e enfrentar os desafios como um cowboy inebriado e destemido. Fatos e escolhas presentes em Eu, Cowboy, primeiro romance do escritor, jornalista, tradutor e roteirista Caco Ishak.

Essas e outras façanhas, como beber vodca como se fosse água, arranjar brigas e se jogar de um carro em movimento, são obra de Carlo Kaddish, alter ego do autor. É o personagem que narra a história e nos leva a um labirinto de questionamentos e sentimentos intensos sobre toda uma geração que se sente perdida, que não sabe pelo quê lutar e que sofre por achar que tudo o que era possível criar nesse mundo já foi criado.

“Eu, loser desde o parto. Um moleque branco aguado, criado a leite com pera, tudo pra dar certo na vida segundo esse mundinho machista de merda, mas calhei de ser loser.” (p.13)

A busca desse cowboy urbano extrapola o “eu”, investiga o sentido do “outro”, põe em xeque a sanidade dos relacionamentos por meio da vivência dos personagens que compõem o grupo de amigos de Carlo: Hermano, Murilo, Büden Bart, Rudie Ruth, Manoela, Mailô, Clemente, Carolina; cada um adicionando à história uma forma diferente de se ver e levar a vida, nada de certo ou errado, apenas diferente.

“[…] mas eu não tenho essa visão pros outros. eu não fico falando dos outros. eu fico pensando nos outros. porque, se não for assim, todo mundo acaba se tornando um grande filho da puta. daí tentar entender o outro, pensar no outro.” (p.43)

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Eu, Cowboy (Oito e meio, 2015)

Lançado em 2015, o livro reúne qualidades como enredo e personagens interessantes, profundidade de conteúdo e um cuidado especial com a linguagem, que flui, às vezes como um pensamento, outras, como as conversas que mantemos com amigos pelos aplicativos de comunicação. Méritos de um escritor experimentado em poesia, afinal, Caco Ishak também é autor de Não Precisa Dizer Eu Também e Dos versos fandangos ou a má reputação de um estulto em polvorosa.

A obra ainda é enriquecida por inúmeras referências da cultura pop universal, trazendo ideias de músicas, de grandes nomes da literatura, do cinema e outras artes. O autor também apoia as discussões que levanta em conceitos da filosofia, citando estudiosos como Sartre e Baudrillard. Um prato cheio para aqueles que buscam na literatura mais do que um mero entretenimento.

 

Referência:

ISHAK, Caco. Eu, Cowboy. Rio de Janeiro: Oito e meio, 2015.

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