Será que a nova adaptação de Dostoiévski é interessante?

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Já sabemos que o filme dirigido pelo cineasta Richard Ayoade, O Duplo, com Jesse Eisenberg e Mia Wasikowska, vai ser lançado oficialmente no Brasil, provavelmente, em setembro de 2014. O longa-metragem é inspirado livremente no clássico romance O Duplo, do escritor russo Fiódor Dostoiévski. A produção recentemente marcou presenças nos festivais London Film Festival e Toronto International Film Festival.
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Basicamente o filme conta a história de Simon (Jesse Eisenberg), um homem tímido, à beira de uma existência isolada num mundo indiferente. Ele é negligenciado no trabalho, desprezado pela sua própria mãe e completamente ignorado pela mulher dos seus sonhos. Ele sente-se impotente para mudar a sua vida. A chegada de um novo colega de trabalho, James (Jesse Eisenberg), perturba-o. Fisicamente, James é um duplo de Simon, no entanto em termos de personalidade é exatamente o oposto de Simon. Confiante, carismático e lida com as mulheres. Infelizmente para Simon, James começa lentamente a assumir a sua vida.
A comédia conta também com nomes como Mia Wasikowska, Wallace Shawn, Noah Taylor e Rade Serbedzija no elenco principal.
Até aí é o que a mídia brasileira mais popular comenta.  A questão é que nos EUA o filme já esteve em cartaz em 09 de maio de 2014, em circuito limitado. Assim, o que a mídia internacional comenta sobre o filme? Tentamos conferir o que se comenta lá fora, antes do filme ser lançado oficialmente aqui no Brasil, apesar de que alguns blogs nacionais já estão comentando sobre.
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A famosa Revista Time comenta que, ao contrário do filme Submarine de 2010 (uma adaptação do romance homônimo do escritor Joe Dunthorne), dirigido também pelo cineasta Richard Ayoade, o novo filme O Duplo faz pouca tentativa de agradar e é menos psicológico e mais satírico. Além do mais, a sua narrativa toma emprestada a visão surreal e de perseguição como o romance O Processo do escritor Kafka.
A Time continua a descrever o filme no que tange a estética: sua narrativa acontece em quartos, bares e ruas escuras e nos ambientes nunca há luz o suficiente, exceto quando o personagem Simon é surpreendido por uma olhar sinistro. A Revista, curiosamente, faz a alusão de que se a União Soviética tivesse vencido a Guerra Fria nos anos 50 ou dos anos 60, impondo seu padrão a todo o mundo, era assim que viveríamos hoje, numa estética ao estilo do “O Duplo”.
Um filme dostoievskiano, com clima kafkiano, é o que pretende admitir a Time, sem desconsiderar que o filme é uma comédia, apesar de tudo. Mas, o humor é igualmente escuro no filme (a revista o qualifica como ‘humor negro’).
A trilha sonora do longa segue ao som de canções ao estilos orientais e melancólicas a partir dos anos 60, como a música “Sukiyaki”, do cantor Kyu Sakamoto. Essas melodias assombra o espectador e fornece uma trilha sonora melancólica que pode estar presente na mente de Simon.
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Já a Film School Rejects, uma popular revista on-line americana, citada pelas The New York Times , CNN e outras, comenta que o filme O Duplo é profundamente bizarro e ao mesmo tempo divertido. O filme é repleto de sons quase constantes – estranho ruído ambiente, especialmente passos, relógios, telefones, máquinas de escrever e trens, e uma encenação exagerada do Simon, quase que mais teatral mesmo.
Por fim, A National Public Radio (NPR), rádio pública americana, em seu site, resenhou o filme O Duplo em que diz que a história é baseada na obra do escritor Dostoiévski, mas que joga com o clima surreal do escritor Kafka, gerando uma espécie de pesadelo para o telespectador e afirma que o filme é bem-vindo.
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Mas, será que essa adaptação é realmente coerente com a obra de Dostoievski, respeitando, é claro, a linguagem das devidas artes, o cinema e a literatura, como querem a mídia internacional?
Richard Ayoade tem sido valorizado nesse filme, sabendo criar um universo bizarro e coerente, segundo uma boa parte das resenhas internacionais mais conhecidas. Enfim, como não propus uma resenha do filme e sim uma investigação dos rumores internacionais sobre o mesmo, parece que a adaptação contemporânea do romance de Dostoiévski foi bem sucedida.
No mais, vamos segurar a ansiedade e esperar setembro para tirarmos as nossas próprias conclusões.
Confira os trailers:
Link 1.
Link 2.
 

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Marcelo Vinicius é escritor e fotógrafo, autor do livro "Minha Querida Aline" (Editora Multifoco). Colunista do portal Homo Literatus e editor da Revista Sísifo. É amante da arte, especialmente a fotografia, o cinema e a literatura. Graduando em Psicologia pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), na qual faz parte da equipe editorial da revista de Filosofia IDEAÇÃO-UEFS, do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas em Filosofia (NEF); é integrante do grupo de estudos em Filosofia da Arte e do grupo de pesquisas em Filosofia Contemporânea na UEFS. É certificado pelo curso de fotografia do Cento Universitário de Cultura e Arte (CUCA) e teve suas fotografias selecionadas por diversos festivais. Participou de jornais regionais, do projeto de extensão sobre cinema e produção de subjetividade e do projeto de Psicologia Social na UEFS. Foi responsável também por coordenar projetos acadêmicos sobre os escritores Franz Kafka e Fiódor Dostoiévski, ainda co-coordenou projetos sobre os cineastas Bergman e Hitchcock e apresentou o tema “A relação entre o escritor Dostoiévski e o cineasta Hitchcock em Festim Diabólico”, na II Mostra 100 Anos de Cinema: Alfred Hitchcock.

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