Clara Averbuck, mercado editorial e editoras más

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O lucro que o escritor tem com a venda de livros, mesmo no caso do crowdfunding, pode ser pequeno. Entenda!

Clara-Averbuck-por-Paula-Ragucci
Clara Averbuck

Clara Averbuck é escritora, autora de seis livros; teve um filme inspirado em sua obra, já publicou na Inglaterra, e já foi dona do blog mais lido do país. Possui uma página com quase doze mil curtidas no Facebook, tem mais de quarenta mil seguidores no Twitter, já trabalhou na TV Record e participou de um reality show. Lançou suas obras por selos relevantes, como a Planeta e a Conrad, e possui uma sólida carreira literária de mais de 15 anos. E agora decidiu largar tudo e publicar de forma independente.

Neste ano, Clara criou uma página no site de financiamento coletivo Catarse, onde solicitou colaborações para o lançamento de seu sétimo livro, Toureando o Diabo. O valor necessário para que a obra saia do computador diretamente para a estante? Trinta e cinco mil reais.

Uma leitora entrou em contato com Clara através de uma rede social, perguntando se neste valor já estava incluído o seu lucro enquanto autora, e Clara respondeu que não; que ali constavam somente as despesas de produção, edição, impressão e divulgação do livro, cuja tiragem seria de três mil exemplares.

Escrevi tudo isso apenas para ilustrar aos novos escritores brasileiros, que acham um abuso investir dois, três, cinco ou dez mil reais no lançamento de seu livro, que, sim, é caro publicar no Brasil. E não é caro porque as editoras são loucas por dinheiro e não querem dividir nada com o autor; é caro porque os investimentos necessários para que se tenha um livro de qualidade em mãos, devidamente revisado, registrado, editado e diagramado, além de decentemente divulgado, são altos. Muito, muito, muito altos.

Um dos argumentos de Clara Averbuck para deixar o mercado editorial tradicional e seguir o caminho inverso, voltando ao mercado independente, é justamente o fato de que as editoras pagam uma miséria aos seus escritores – algo entre 5% e 10% sobre o preço de capa.

Mas se ela precisou levantar trinta e cinco mil para lançar seu livro de forma independente, parece-me evidente que sua editora também precisaria levantar este mesmo valor, senão mais, para lançar este mesmo livro – e sem contar com financiamento coletivo de leitores parceiros. Detalhe: uma editora não publica somente um autor, publica vários. E se o investimento em um é de mais ou menos trinta e cinco mil, quanto é necessário investir para manter o catálogo de uma editora em constante atualização, com dez, doze, vinte lançamentos por ano?

Importante lembrar que uma editora é, acima de tudo, uma empresa. E como toda empresa paga impostos, paga funcionários, paga mais impostos, paga aluguel, paga impostos outra vez, paga pelo espaço em livrarias, paga mais um pouquinho de impostos, e possui uma série de despesas fixas que, se não forem honradas, obrigarão a empresa a fechar suas portas. Logo, um livro que custa trinta e cinco mil para ser lançado no mercado independente pode custar quase o dobro se publicado por uma editora tradicional.

Todos os investimentos necessários para que se tenha um livro na estante (revisão, edição, registros, diagramação, impressão e etc.) precisam ser quitados ANTES do livro ser lançado. Logo, a editora deve primeiro pagar, para somente depois, bem depois, recuperar o que pagou. Ou seja: trata-se de um investimento para retorno em longo prazo. Retorno este que, aliás, não é garantido. Afinal, nunca se sabe se determinado livro cairá nas graças do público leitor, ou se ficará encalhado, juntando poeira nas estantes de livrarias Brasil afora.

Ou seja: seria como se a Clara Averbuck primeiro investisse trinta e cinco mil reais do seu próprio bolso, para somente alguns meses (ou anos) depois, reaver seu investimento. E vamos combinar: trinta e cinco mil reais é dinheiro pra caramba. A maioria das pequenas editoras não lucra este valor em um ano de trabalho.

Desta forma, é no mínimo equivocado, além de demonstrar total falta de conhecimento e noção de mercado, reclamar da porcentagem que a editora repassa ao autor.

É evidente que eu concordo que os escritores ganham mal. Eu sou escritora, e sei que é completamente impossível um autor viver somente da venda de seu livro no Brasil. Mas não é por que as editoras são malvadas e cruéis e loucas por dinheiro, e nem por que cagam e andam para seus autores, e muito menos por que querem que todos morram de fome. É por que os custos necessários para que ocorra o lançamento de um livro são altos, envolvem um monte de profissionais que precisam receber o seu, e não possuem garantia alguma de que o livro no qual estão apostando trinta e cinco mil reais irá, de fato, vender.

Ademais, uma tiragem de três mil exemplares é uma tiragem minúscula, se levarmos em conta que o Brasil possui mais de duzentos milhões de habitantes. E ainda assim, muitas vezes a editora leva um, dois, três anos para comercializar três mil exemplares. E veja que estou falando da Clara Averbuck, autora de seis livros, que já teve um filme inspirado em sua obra, já publicou na Inglaterra, e já foi dona do blog mais lido do país, além de possuir uma página com quase doze mil curtidas no Facebook, e mais de quarenta mil seguidores no Twitter, e que trabalhou na TV Record, participou de um reality show, e lançou suas obras por selos relevantes, como a Planeta e a Conrad, tendo uma sólida carreira literária de mais de 15 anos.

Agora, imagina uma editora investir todos estes mil reais e vender três mil livros de um autor que começou a escrever faz meia dúzia de anos, está lançando seu segundo livro, e do qual nunca ninguém ouviu falar.

Pois é.

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