A Bela e a Adormecida: o novo conto de fadas de Neil Gaiman

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Em A Bela e a Adormecida, de Neil Gaiman, princesa é acordada com beijo de Branca de Neveo-A-BELA-E-A-ADORMECIDA-900

“Uma mulher não precisa ser salva por um príncipe. Não tenho muita paciência para histórias em que mulheres são resgatadas por homens.” É assim que Neil Gaiman explica o porquê de ter escrito seu mais recente conto de fadas, The Sleeper and the Spindle, livro infantojuvenil com ilustrações de Chris Riddell e publicado lá fora em 2014. Na história, Branca de Neve, uma jovem rainha, cancela o próprio casamento para tentar salvar um reino vizinho de uma praga do sono. A maior diferença do conto é que, para isso, é a própria Branca de Neve que tem que acordar Bela Adormecida com um beijo. Um dos príncipes mal é mencionado, e outro nem aparece!

Contos de fadas não são estranhos à extensa obra do autor inglês de 54 anos, que visita Bela Adormecida e Branca de Neve pouco depois de ter publicado João & Maria (no Brasil pela Intrínseca em setembro de 2015, tradução de Augusto Calil), em que ele transformou a história dos dois irmãos perdidos em uma espécie de terror infantil com ilustrações de Lorenzo Mattotti. “Eu me sinto como um alquimista”, disse Gaiman em uma entrevista para o Telegraph. “Vou à estante, pego uma colher de Branca de Neve e duas de Bela Adormecida, daí então eu coloco a Bela Adormecida no fogo, bato a Branca de Neve em neve e misturo tudo: é como uma cozinha de fusão. Tem o gosto das duas coisas, mas é um prato completamente diferente.”

Gaiman não é o primeiro a fazer modificações em contos de fadas — afinal, não é isso o que a Disney vem fazendo desde sempre? No entanto, mudanças mais “radicais” parecem estar em voga: desde Maligna, de Gregory Maguire, que conta a versão da bruxa de O Mágico de Oz, até Ash, de Melinda Lo, que transforma a já conhecida história de Cinderela em um belíssimo romance entre duas mulheres. Ainda assim, questões polêmicas como sexualidade continuam sendo um tabu em um gênero tão conhecido como voltado a crianças, e ainda são raros os livros que, como Ash, tratam disso abertamente. Esse não é o foco de A Bela e a Adormecida, as duas princesas não trocam mais do que um beijo, o foco é definitivamente outro, mas já é um ótimo começo.

Quem já conhece o autor sabe que sua escrita costuma ser sempre bastante simples e gostosa de ler, e não acontece diferente nesse lançamento. Gaiman dá à história relativamente curta um ritmo próprio e a enche de personagens que conseguem ser críveis e ter personalidades diversas mesmo que seus nomes não sejam mencionados em nenhum ponto da história — nem mesmo o de Branca de Neve, por mais que fique bem claro que se trata dela, ou o de Bela Adormecida, que, bom, não parece ter um nome além do que a adaptação da Disney lhe concedeu. Por fim, embora não seja o foco da matéria, seria injusto terminar sem mencionar as maravilhosas ilustrações de Chris Riddell, que fazem o livro valer ainda mais a pena.

A Bela e a Adormecida sai no Brasil no dia 7 de novembro pela Rocco Jovens Leitores, com tradução de Renata Pettengil, e já se encontra em pré-venda nas principais livrarias.

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