Cultura Pop e Literatura Pós-moderna (Se o Papa é Pop, por que Literatura não é?)

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As possibilidades aumentaram, bem como as chances de desenvolvimento e, principalmente, a aproximação do mundo do autor com a do leitor é gigantesca, tirando de vez a imagem do autor num pedestal elevado inatingível pelo leitor.

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Pop Art com Marilyn Monroe

Quando falamos de Literatura Pós-moderna, o que temos é o caos: realidade líquida, narrativas fragmentadas, metanarrativas aos montes, referências e autorreferências perpétuas, textos dentro de textos, infinitas piadas e humor cáustico. Há ainda, porém, algo que pode parecer um tanto desconfortável para alguns, principalmente àqueles que vêm a arte de escrever histórias por escrito como um objeto maculado e elevado: cultura pop. É incrível ver como, ainda hoje, tem quem se negue a aceitar o fato de que a cultura pop faz parte das nossas vidas, e por conseqüência da dos escritores também. Daí para entrar nas narrativas pós-modernas é um pulo, quer queiramos ou não.

Mas, afinal, o que é cultura pop?

De forma bem resumida e simples – para não se entrar em longuíssimas e por vezes fatigantes discussões sobre limites de cultura – podemos dizer que Cultura Pop é tudo que se produz no mundo do lado ocidental (sem bem que hoje as fronteiras entre ocidente e oriente são mínimas). E quando dizemos tudo, é tudo mesmo. Cinema, televisão, música, pintura, histórias em quadrinhos, videogames, rádio, jogos de computador etc. ao infinito e além. Tudo que é passível de ser mainstream – inclusive subcultura ou aquilo que muitos chamam de underground – pode entrar no rótulo.

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Recriação italiana de Pulp Fiction de Quentin Tarantino, exemplo de Cultura Pop e pós-modernidade.

Chegando a este ponto a pergunta é inevitável: e agora, que fazemos com esse sem fim de coisas? Pior ainda, como elas afetam boa parte dos autores (pós)-modernos?

Primeiro, sabe-se, ao contrário do que Flaubert cria e pregava que se, não pode capturar e transmitir o mundo pela voz de um narrador, pois o tal mundo não é único, mas uma concha de retalhos feita de fragmentos de várias e várias camadas que se sobrepõem, construindo visões a partir desse conjunto (as formas de se abordar a realidade na Literatura chegou a tal ponto que hoje é possível achar estudos culturais do tipo Ecocrítica – sim, eco de ecologia –, tendo nomes como Greg Garrard na proa de expoentes da ideia).

Segundo, até pouco tempo, quem fazia Literatura, invariavelmente, eram membros de camadas altas da sociedade – até porque, convenhamos, a tecnologia da escrita não é dominada por todos hoje, imaginem há cem anos atrás. Esses, por sua vez, eram mais seletivos, escondiam pequenas vergonhas ou deslizes da sociedade ao transpô-la para o mundo escrito. Normalmente, o que víamos era uma cultura filtrada, sofisticada, clássica. A verdade, porém, é que a Cultura Pop sempre existiu, mesmo nessa época, sendo que antes ela era deixada em segundo plano na melhor das hipóteses.

Sem título

The Beatles em HQ

O que acontece hoje? Simples. Os personagens ouvem Beatles e Miles Davis, leem histórias em quadrinhos do Pado Donald, vêem filmes de Quentin Tarantino, essas coisas quem um simples ser humano como nós, leitores, fazemos.

Ainda não vê a diferença da Cultura Pop na Literatura?

Bem, podemos dizer que a Cultura como um todo entrou nos livros, deixando-os mais descontraídos – em paradoxo pós-moderno, o que não significa menos sério. As possibilidades aumentaram, bem como as chances de desenvolvimento e, principalmente, a aproximação do mundo do autor com a do leitor é gigantesca, tirando de vez a imagem do autor num pedestal elevado inatingível pelo leitor.

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(Não é à toa que boa parte da Literatura Pós-moderna tenha base num gênero de segunda categoria dentro da Literatura como um todo: o romance policial. De Edgar Allan Poe a Georges Simenon, passando por Agatha Christie, Sir Conan Doyle, Raymond Chandler – só para ficar em alguns dos mais famosos dessa Literatura Pulp -, se tornaram figuras importantes para se entender esse fenômeno da pós-modernidade literária como um todo.)

Outro ponto interessante, típico sintoma dos nossos tempos, é a recriação de muitos desses gêneros não-literários ou de subgêneros, tornando-os grandes narrativas. Somos obrigados novamente a retomar ao Romance Policial, já que ele teve um grande upgrade nas mãos de alguns autores como Thomas Pynchon, Haruki Murakami, DBC Pierre, Ítalo Calvino e Umberto Eco – esse, a meu ver, o caso mais interessante de todos, afinal, não é todo dia que vemos surgir um amálgama de romance história com narrativa policial.

Adaptação em HQ de Os Miseráveis de Victor Hugo

Em Nabokov, em Borges, em Bolaño, em Murakami, todos e muitos outros possuem esse toque apocalítico da cultura de massa – incluindo nisso tudo a dita Cultura Erudita, com Mozart, Beethoven e companhia, pois até ela fora incorporada e hoje é acessível à todos.

A Cultura Pop aproximou os autores dos leitores e acabou com o Olimpo literário.

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