
Você sabe o nome de algum autor holandês? Então conheça algumas obras para entrar no mundo da literatura holandesa, ainda tão pouco conhecida aqui no Brasil

A literatura holandesa, ao contrário de outras, nunca foi muito divulgada no nosso país. No entanto, isso não a impede de ter grandes autores e obras, muitas delas já disponíveis para o público brasileiro.
Para ajudar, pedimos ao Daniel Dago, da página Literatura Holandesa (clica no link e confira), para nos indicar algumas obras. Assim, teremos a curadoria não apenas de leitor e amante, mas também de um tradutor e pessoa dedicada ao tema.
Um adendo rápido.
As sinopses foram retiradas e adaptadas das próprias páginas das editoras. Inclusive, caso interesse a compra, é só clicar nos títulos para saber mais sobre.
Boa leitura.
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Este livro é a primeira antologia do conto holandês publicada no Brasil e, na prática, a primeira da América Latina. Em dezoito contos de dezoito autores, percorrem-se cem anos da mais alta literatura dos Países Baixos, partindo da primeira metade do século XIX até meses antes do começo da Segunda Guerra.
Temos aqui os principais representantes do cânone holandês: Hildebrand, Multatuli, Jacobus van Looy, Arnold Aletrino, Herman Heijermans, Jacob Israël de Haan, Carry van Bruggen, Louis Couperus, Marcellus Emants, Theo Thijssen, Jan Jacob Slauerhoff, Edgar du Perron, Aart van der Leeuw e Hendrik Marsman. Alguns, inclusive, concorreram formalmente ao Prêmio Nobel de Literatura: Frederik van Eeden, Albert Verwey, Arthur van Schendel, Simon Vestdijk; este último foi indicado 15 vezes ao prêmio sueco.
Perfazendo uma ampla amostragem dos mais diversos gêneros – do cômico ao fantástico, do trágico ao experimental –, estes clássicos da literatura holandesa são quase todos inéditos em português, e alguns ganham aqui a sua primeira tradução mundial.
No limite da razão, J. Bernlef

No Limite Da Razão” é uma novela vigorosa e sensível. Maarten Klein, de setenta e um anos, vive com sua mulher Vera em Gloucester. Nascidos na Holanda, enfrentaram com dificuldade a invasão nazista em seu país antes de emigrarem para os Estados Unidos, onde Maarten trabalhou em um departamento do governo americano. A história é contada na primeira pessoa do singular pelo protagonista, que sofre da doença de Alzheimer. As falhas de memória são progressivas e o leitor testemunha o esvaziamento da sua mente junto com o sofrimento de sua esposa.

Jörgen Hofmeester tinha uma vida perfeita: uma esposa atraente, uma casa com jardim em um bairro nobre de Amsterdã, uma carreira prestigiosa como editor de livros de ficção estrangeira, duas filhas lindas, Ibi e Tirza, e uma conta-corrente na Suíça.
Uma vida burguesa, sossegada, que acaba sendo subvertida por uma série de eventos dramáticos. A narrativa começa com Hofmeester preparando meticulosamente sushis para a festa de formatura e despedida de Tirza. Por trás do aparente autocontrole de Hofmeester, há uma violência reprimida, uma tensão constante, uma ameaça invisível, elementos que dominarão a trajetória do protagonista até o imprevisto e desconcertante final. Tirza é, ao mesmo tempo, um romance assustador e fascinante, divertido e sinistro, a história de um homem em desesperada, embora inútil, busca por salvação.

Um relato corajoso, delicado e intenso de uma fugitiva judia na Holanda ocupada pelos nazistas.
Marga Minco era uma jovem judia na Holanda em 1940 que, sozinha, longe da família, escapou milagrosamente da prisão e da morte em um campo de concentração. Em uma série de crônicas vívidas — a chegada de seu pai com um pacote cheio de estrelas amarelas que deveriam ser costuradas na roupa, a ardência na cabeça ao descolorir o cabelo, as botas pretas vistas através de uma grade no porão da casa de sua família em Amsterdã —, ela conta como foi ver o céu escurecer sobre seu país, além de sua fuga, as viagens de trem, os esconderijos em fazendas, o torpor da perda.
A história de Marga Minco — assim como Anne Frank em seu diário — evoca uma época e um lugar, palco para acontecimentos que nunca devem ser repetidos, em uma linguagem emocionante, concisa e, por isso mesmo, memorável.

Há quem acredite que apenas um evento pode mudar a vida da pessoa. Mas e se esse alguém se recusar a aceitar o que os mais místicos chamariam de destino? Essa é a história de Anton Steenwijk. que nasceu numa Holanda ocupada por nazistas e vê sua vida seguir um novo caminho após um atentado.
Seu criador, Harry Mulisch – um dos maiores nomes da literatura européia. aclamado pelo vencedor do Prêmio Nobel J.M. Coetzee como um dos melhores de sua geração – constrói o personagem com cuidado digno de pai, ainda que não lhe poupe os sofrimentos de que a paternidade tentaria proteger. Mas dá à sua criatura toda condição de enfrentá-los.
O atentado, que foi adaptado para o cinema numa produção vencedora do Oscar e do Globo de Ouro. é a obra-prima de Mulisch. a quem John Updike chamou de “uma raridade para esses tempos (…) um romancista instintivamente psicológico”.
Anton Steenwijk é um menino-jovem-homem-senhor consciente da temporalidade da existência. da inevitabilidade do que já passou e da necessidade de seguir adiante. Pragmático e sensível. não se julga mártir. bode-expiatório. ícone ou herói. Ao longo de sua vida. contada em curtos episódios e longas elipses, percebem-se as mudanças por que passou o mundo nos mais de quarenta anos posteriores à Segunda Guerra Mundial. Pois é na década de 1980 que nosso protagonista se depara pela última vez com um dos personagens do incidente – a peça-chave para entendê-lo.
Dia de Finados, Cees Nooteboom

Depois de perder a mulher e o filho num trágico acidente aéreo, Arthur Daane, cameraman e autor de documentários para a TV, perambula com sua câmera por Berlim, colecionando imagens para o seu “eterno projeto”: um filme. Busca registros de um mundo em constante transformação, descobre vestígios, pegadas que a neve vai aos poucos recobrindo e condenando ao esquecimento.
Na metrópole alemã, à mesa de bares e restaurantes, ele e os amigos discutem longamente os acontecimentos da década de 1990; juntos, passam em revista a história européia – os vivos e os mortos. Mas um dia, quando Daane conhece Elik, uma estudante de história, toda a metafísica das infindáveis discussões ganha de súbito contornos bastante concretos. O tempo presente envia o seu chamado: Arthur Daane encontra o canto e o silêncio de uma sereia, de uma jovem mulher cujos segredos ele ouve e persegue até Madri, até o fim.
Dia de Finados avança no compasso de um romance de amor em que as histórias pessoais parecem entrelaçar-se ao acaso à história dos lugares onde elas são vividas. O cenário é um magnífico panorama da Europa, “filmado” por um romancista que sabe representar com precisão os cruzamentos entre os caminhos individuais e a história do continente.