O escritor e editor-chefe do Homo Literatus, Mario Filipe Cavalcanti, fala em entrevista ao “Conversa com o escritor(a)” sobre os meandros de sua literatura
Encontros literários em tempos de distanciamento social
“Conversa com escritor (a)” é um projeto da Biblioteca EREM Dom Vital em seu canal do Youtube, apresentado e mediado por Marcelo Batalha, onde escritores são convidados para um papo descontraído e estimulante sobre leitura e literatura. Vai ao ar todas as segundas, às 17h. A empreitada nasceu da necessidade de aproximar pessoas e criar conexões nesses tempos de distanciamento social exigidos pela pandemia do Covid-19.
Desde sua estreia, o programa já recebeu nomes como Sidney Rocha, Raimundo Carrero, Ronaldo Correa de Brito, Marcelino Freire, entre outros potentes da literatura nacional. Na última segunda-feira, o convidado foi o advogado, escritor e editor-chefe do nosso Homo Literatus, Mario Filipe Cavalcanti, para uma conversa que passou por temas como papel do Estado no incentivo à leitura, literatura na vida cotidiana e como nos manter conectados às artes em “tempos líquidos”, frágeis e borrados pela rapidez das mídias sociais.
Um pouco sobre nosso editor
Mario Filipe Cavalcanti, que também é advogado, é contista, autor dos livros premiados O Circo (2015), Morte e vida e outros contos (2018) – ambos vencedores do Edital Novos Talentos da Editora Universitária da UFPE; Comédia de enganos (2014), semifinalista no Prêmio Sesc de Literatura e Caninos Amarelados (2016) – vencedor do 3º Prêmio Pernambuco de Literatura.
Seus contos, que já foram objeto de algumas análises, oferecem aos leitores uma análise dos tipos sociais dos centros urbanos, as mazelas, os medos e as desejos que dialogam com nossa própria intimidade e com as “máscaras sociais” que vestimos, como ele diz na entrevista:
“O que é fantástico [na literatura] é que ao passo que você vai lendo, as imagens vão se formam dentro de você; o que é perfeito na literatura, enquanto arte, é isso: um contato muito direto entre a intimidade do escritor com a intimidade do leitor”
Pequenos meandros da entrevista
Inicialmente questionado sobre sua vida na escola pública e sobre a importância que essa escola tem, Mario dispara:
“A escola pública é uma iniciação à sociedade brasileira, em sua complexidade”,
e sustenta argumentando que toda a diversidade encontrada na escola pública, assim como os problemas que a permeiam, sejam de natureza estrutural ou de políticas públicas aplicadas, ensaiam o brasileiro iniciante à realidade do que é o Brasil, enquanto país desigual e segregador.
Falando sobre os meandros do que é a arte e da sua relevância para a educação e para a cultura, afirma:
Eu acredito piamente que a arte é um retrato muito profundo do que o ser humano é (…) é um olhar para dentro, um olhar para fora, é um olhar.
E no contexto do artístico, argumenta que crê haver algo de fantasmagórico e fantástico na literatura enquanto arte, que é a sua capacidade de criar imagens dentro de nós a partir simplesmente do domínio da palavra, afirma:
O texto imagético te chama atenção por uma série de coisas, você tem uma paleta de cores, formas geométricas ou não, isso te chama atenção; o texto escrito tem outro viés, não tem nada que te chame atenção de plano, num primeiro contato, são linhas em preto num fundo branco ou amarelo.
O que é fantasmagórico e fantástico, também é que ao passo que você vai lendo, as imagens de formam dentro de você. O que é perfeito na literatura é isso, é um contato muito direto da intimidade do escritor com a intimidade do leitor.
Segue citando Humberto Eco e o compositor Franz Schubert ao afirmar acreditar que a obra nunca é completa, acabada,
“a obra é sempre incompleta”.
A despeito de uma cisma da extrema subjetivação que a literatura contemporânea tem nos oferecidos nos últimos tempos, em uma esteira cabralina, Mario busca no seco da palavra e no oco da linguagem o que pode ser dito pela economia lúcida da concisão.
Depoimento e crítica literária
Além da participação do próprio autor, a entrevista contou com o depoimento do professor Dr. Lourival Holanda, crítico literário, editor, membro da Academia Pernambucana de Letras e professor do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco, que disse sobre o autor:
Em alguns autores o valor desperta cedo, foi assim com Mario Filipe. A alegria do editor é ver surgir o valor novo. A gente sente que a literatura está em boas mãos, garante continuidade. Ela que tem a função de sempre recompor o sonho social.
O ser e a obra
A entrevista apresenta um reflexo de sua obra.
O escritor comenta os lampejos do cotidiano que se transformam em literatura na conversão pela linguagem, coloca música e literatura lado a lado, defende a democratização da arte e opera, por referências, uma homenagem à leitura.
Essa é a política da literatura na qual Mario Filipe Cavalcanti está filiado: alargar as possibilidades do real para alimentar a fome, uma fome que não se mata, a fome das abstrações e da vivência.
O programa completo pode ser conferido aqui.