Uma das primeiras decisões que um escritor tem que tomar ao começar uma história – seja um conto, uma crônica ou um romance – é que tipo de narrador irá adotar. Esta decisão, muitas vezes determinante para a qualidade da obra, quase sempre passa despercebida pelo leitor, mas causa muita dor de cabeça nos autores. Apesar de cada autor ser livre para inovar em sua obra da forma que a criatividade lhe convidar, podemos dizer que existem dois tipos mais tradicionais de narrador: na primeira pessoa, e na terceira. Entretanto, esse dois grupos ainda podem ser subdivididos em grupos menores, que acabam oferecendo novos recursos ao escritor. Antes de entendermos as vantagens e desvantagens de cada tipo de narrador, vamos àquela rápida revisão de uma aula de português (apenas para o caso de você ter faltado nesse dia ou ter ficado muito ocupado pensando em como se divertir após a aula).
– Narrador na primeira pessoa: é quando o narrador participa ativamente dos fatos narrados, podendo ser ou não ser o protagonista da história.
– Narrador na terceira pessoa: nesse caso, o narrador funciona unicamente como um observador da história.
Não preciso escrever aqui que cabe ao escritor decidir qual dos tipos de narrador é mais apropriado à sua história, mas há algumas questões que a prudência aconselha não ignorar. Como você deseja que a história seja contada? Como você quer que seja a relação entre os personagens? Como você quer que seja a relação dos personagens com o leitor? É baseado nessas perguntas que você estará pronto para escolher o tipo de narrador que melhor se encaixará em sua história. Vamos às vantagens e desvantagens de cada um.
PRIMEIRA PESSOA
Na narração em primeira pessoa, o personagem fica mais próximo do leitor. O narrador participa da história e, portanto, narra as suas experiências, suas emoções, seus medos e suas indecisões. Desse modo, fica mais fácil criar uma empatia com o personagem. Nesse tipo de narração, entretanto, fica impossível descrever as emoções e os pensamentos de outros personagens, constituindo aí a maior desvantagem desse tipo de narração. Entretanto, se o objetivo de sua história é criar um maior suspense ou uma atmosfera de mistério, essa característica pode acabar constituindo uma vantagem já que, ao ter a história contada do ponto de vista de apenas um personagem, muitas informações acabam sendo omitidas ao leitor que acaba mergulhando na mesma tensão em que o personagem se encontra.
TERCEIRA PESSOA
Já na narração em terceira pessoa, o narrador fica um pouco mais distante dos personagens, mas o escritor tem muito mais liberdade para abordar o que se passa na mente de outros personagens, ou até mesmo descrever cenas que se passam em pontos distantes do protagonista. Alguma cena pode ser de vital importância para o entendimento da história e se passa longe dos principais personagens. Neste caso, a narração em terceira pessoa é útil. Neste tipo de narração, o escritor tem muito mais liberdade para abordar praticamente qualquer cena, em qualquer ângulo e a qualquer tempo.
Resumindo, a narração em primeira pessoa pode ser aproveitada em histórias que focam nos sentimentos e em um protagonista único, além de contribuir para a formação do mistério. Já a narração em terceira pessoa pode ser mais útil em histórias que envolvem um número maior de personagens e núcleos.
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Mas nem tudo é preto ou branco na vida (e, consequentemente, na literatura). Há sempre muito espaço para o cinza.
E você? Que tipo de narrador prefere ler? E que tipo de narrador você ficaria mais a vontade para escrever? Deixe sua opinião e seus comentários abaixo.